Uma noite de honras à ousadia e à gastronomia

Chopp do Gonzaga recebe homenagem

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Uma noite festiva, de celebração. A história de Venerando Quinhones Rodrigues, 95 anos, da sua família e da fundação, há 48 anos, do Ao Chopp do Gonzaga foi exaltada em sessão solene da Câmara, na noite do dia (24/08/10).

Proposta pela vereadora Telma de Souza (PT), no ano passado, por motivo de agenda do Legislativo a homenagem só pode ser realizada agora. “Com este ato, rendemos tributos não só ao trabalho, mas à mais completa dedicação; não só à capacidade de negociar, mas de honrar compromissos, ao caráter e à honestidade”, afirmou.

Thiago Rodrigues, filho de José Rodrigues, publicitário, membro da terceira geração à frente do Ao Chopp, ao lado de Vinícius e Thaíza, foi quem discursou pela família. “É com muito orgulho que recebo esta homenagem, não só pelo êxito da empresa, mas pelo histórico e o sucesso de um grande homem. Não existe grande sucesso sem grandes dificuldades, e Venerando Rodrigues e Belmiro Martins trabalharam e venceram todos os obstáculos. E nós, que estamos na terceira geração do Ao Chopp temos o privilégio, a honra e a hombridade de dar continuidade a este trabalho que começou há quase meio século. Em  nome da família Rodrigues, agradeço à vereadora Telma de Souza pelas palavras e a esta Casa pelo homenagem”.

Veja na íntegra o discurso de Telma
Preservar e perseverar

Esta homenagem, na data de hoje, é um reconhecimento à saga de um vencedor, iniciada em Olviedo, nas Astúrias, em terras de Espanha, há 95 anos. Tal qual a cozinha, a tradição culinária, a gastronomia, o calor de sua gente são mundialmente reconhecidos. Em solo brasileiro, estas qualidades se personificaram na pessoa do patriarca Venerando Augusto Quinhones, fundador há 48 anos do “Ao Chopp do Gonzaga”.

Este galante cavalheiro, nosso homenageado, aportou-se com a família, para vir remar em águas brasileiras. Contava então dez anos de idade. O ano: 1925. O destino: mudar a história de sua família e preparar a das futuras gerações. Assim, estende-se esta homenagem para Dona Rita (in memoriam), ao filho José Rodrigues, Dona Tânia Darc Rodrigues, Thiago, Thaíza e Vinícius.

Estejam certos de que hoje, com este ato, rendemos tributos não só ao trabalho, mas à completa dedicação, não só à capacidade de negociar, mas de honrar compromissos, ao caráter e à honestidade. São valores elencados pela família, diante da trajetória de esforços para colocar em prática aquele que seria o seu empreendimento mais marcante.

“Honestidade e perseverança: duas coisas que fazem você seguir como homem”. Conforme Thiago, são lições passadas pelo avô. “Você tem de preservar o que tem e ter perseverança”, afirma o pai, José Rodrigues. Este, no “Ao Chopp”, desde os 19 anos de idade.

Recém-desembarcado em Santos, o jovem Venerando agregou-se ao tio, em Guarujá, onde começou a trabalhar na entrega de leite. Dentre as curiosidades vividas, distribuiu leite, inclusive para o pai da Aviação, Alberto Santos Dumont, em sua casa, naquela cidade. Alçar voos, no entanto, não estaria restrito ao imortal aviador.

Venerando, de caixeiro, como se dizia à época, trabalhou em bares, restaurantes, em armazém de café e em escritório, na rua do Comércio. Em poucos anos, porém, estaria à frente do próprio negócio. Foi em 1955. Na companhia de um irmão, montou uma leiteria, à rua Visconde de Cairu, no bairro do Campo Grande. Os negócios foram bem, até a entrada de mais um membro da família. Em seguida, veio um período de dificuldades econômicas.

De patrão, Venerando foi pedir emprego a Belmiro Martins dos Santos. Este investia em um novo restaurante, na av. Pinheiro Machado. Era o “Santa Mônica”, do qual nosso homenageado se tornou sócio, numa relação que perdurou por 24 anos. Com os negócios indo bem, veio uma segunda casa, o “Capri”, à rua Cyra, no José Menino.

Venerando consolidava sua atuação na gastronomia. Este, no entanto, ainda não era o seu principal projeto. Com atividade extenuante, devido a longas horas de expediente, o chefe da família preferiu desfazer-se do enorme restaurante. Por algum tempo, a família Rodrigues gozou do merecido descanso.

Mas havia uma inquietação. No fundo, o coração espanhol, naturalizado brasileiro, batia por alçar novos voos. Bastou-lhe a oferta de um novo espaço. Uma loja, em plena avenida Ana Costa, ainda sem uso, fechada há dois anos. Relativamente pequena e aconchegante, era o que se procurava. Bem diferente do imenso Capri, teria apenas um balcão e 17 banquetas. O ramo: uma completa novidade. Se não desse certo, viraria uma lanchonete.

Era verão. O ano, 1962. Os cinemas exibiam “West Side Story” e “O Pagador de Promessas”. Estrearia mundialmente, em Londres, “Lawrence da Arábia”, um dos maiores sucessos daquela década. O refinado John Steinbeck, de “O Vermelho e o Negro”, era o Nobel de Literatura. A saga gastronômico-transoceânica faria lançar, pela primeira vez na orla da praia de Santos, o legítimo e original churrasco na brasa. Com pesquisa, treinamento e profissionalismo, em pouco tempo a casa caiu no mais completo gosto popular.

À frente do “Ao Chopp” por longas décadas, desde que deixou o serviço militar, José Rodrigues relata os anos iniciais, em um período em que havia no bairro apenas os cinemas; não existiam bares, nem muitas lojas. E mais: ninguém servia churrasco. Foi pioneirismo, sim. Uma aposta que deu certo.

A casa, que inicialmente também tinha pizza, foi-se adaptando. O local, que por décadas conviveu com filas de clientes à espera, criou verdadeira tradição. Lá, são sagradas a boa carne, as fritas e a farofa. O arroz, originariamente um intruso, foi aceito posteriormente. O molho de cebolas, com 13 ervas, é altamente cultuado. José Rodrigues teve o cuidado de patentear a receita.

Nestes 48 anos do “Ao Chopp”, o estabelecimento ajudou a fazer aquele trecho da calçada da avenida Ana Costa, um dos mais famosos da turística cidade de Santos. Nestas quase cinco décadas de atividade, o “Ao Chopp” foi um exemplo de bons serviços prestados, demonstrando respeito pela sua clientela e pela sociedade santista.

Engana-se, porém, quem pensa que não ocorreram períodos difíceis. “Mas, não há outro caminho. Você tem de preservar o que tem e perseverar”, ensina José Rodrigues. O padrão de atendimento e a qualidade da cozinha ajudaram a garantir a travessia dos períodos mais difíceis de crise econômica.

Especializado em espeto na brasa, com o seu balcão característico de 17 lugares, a partir de sua fundação, em 1962, por Venerando Rodrigues Quinhones e Belmiro Martins dos Santos, o “Ao Chopp do Gonzaga” tornou-se uma referência na gastronomia santista. Tanto santistas quanto turistas das mais variadas regiões do estado, do país e do exterior, encontram no restaurante um serviço à altura dos mais desenvolvidos centros urbanos.

Ao longo de quase cinco décadas, o estabelecimento soube, diante de um público cada vez mais exigente, manter o padrão de qualidade e aprimorar serviços. Ter bons fornecedores, comprar bem: mais ensinamentos transmitidos pelo pioneiro, Venerando Rodrigues.

Apesar dos 95 anos, ele não deixa de participar. Faz questão de ajudar na montagem das embalagens de entrega, de, quando necessário, chamar a atenção de algum funcionário... E, acha um absurdo o filho não estar pessoalmente às sete horas da manhã no trabalho. Mais ainda: para abrir o novo espaço, há sete meses, e que já se torna sucesso, Venerando fez exigências. Tem de haver inauguração. E com corte de fita. Protestos iniciais. No final, a determinação é aceita de bom grado. A história dos Rodrigues em Santos vem sendo assim. No “Chopp”, há 48 anos. Na vida, há quase um século.

Por tudo isso, senhoras e senhores, brindamos hoje a esta feliz ideia que nós, apreciadores da boa mesa, tanto agradecemos. Tal histórico merece um registro digno de seu passado, e em consonância com o presente.

Em nome da Câmara de Vereadores de Santos, queiram Sr. Venerando, Sr. José Rodrigues, Dona Tânia, Thiago, Thaíza e Vinícius aceitar esta singela, mas honrosa homenagem com a concessão de Placa Comemorativa em Homenagem aos 48 anos do “Ao Chopp do Gonzaga”.

Telma de Souza
Vereadora (PT)

Assessoria de Imprensa
Vereadora Telma de Souza (PT)