Ressacas elevaram nível da maré

Em palestra proferida para o grupo de visitantes da Câmara Municipal de Santos, professores da Poli-USP expuseram exemplos de diferentes maneiras de lidar com o avanço das marés.

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Elevações como essa, de 80 centímetros, ocorreriam normalmente apenas a cada dez anos. A informação, de engenheiros da Codesp, foi revelada durante a visita da CEV do Aquecimento Global ao Laboratório de Hidráulica da Escola Politécnica da USP.

De acordo com estudos dos ambientalistas, o aquecimento global pode fazer com que o mar avance na faixa de areia em no mínimo 0,5m até 3,7m, no máximo, até o ano 2100. A elevação média esperada, baseando-se em possibilidades pessimistas, é de 1,5m.

“Não devemos pensar em uma catástrofe, mas meio metro que o mar suba já faz muita diferença e causa grandes problemas”, alerta o Prof. Paolo Alfredini, Engenheiro do Departamento de Águas e Energia Elétrica do Centro Tecnológico de Hidráulica e Recursos Hídricos da Escola Politécnica da USP. Alfredini e a bióloga Emilia Arasaki são coordenadores de um belo projeto desenvolvido entre 2003 e 2005 no Centro Tecnológico de Hidráulica da USP. Trata-se de um modelo que reproduz fielmente os fenômenos físicos no mar, simulando o avanço da maré nos mangues e na baía.

O modelo, que ocupa uma área útil de 750 m2 e representa uma área de 1000 km2, foi feito com areia fina, corantes e pedras. A geração de ondas é feita através de calibração, de acordo com o tempo real de progressão da maré pelo estuário. O grupo que acompanhou a Comissão Especial de Vereadores que trata do Aquecimento Global, presidida pelo Vereador Braz Antunes Mattos Neto, precisou até recuar em determinado momento para não ser surpreendido pela água, que avançava com mais força próximo ao Emissário Submarino e mais lentamente entre os canais 2 e 5, como ocorre na realidade. “É mesmo fascinante, um belíssimo trabalho que estamos descobrindo e que nos será muito útil para a conscientização da população quanto ao grave problema ambiental que estamos vivendo. É um caminho sem volta, se não pensarmos em preservar o planeta”, comenta o Vereador Braz.

A bióloga Emília Arasaki explicou que as baías de Santos, São Vicente e Guarujá foram escolhidas porque abrangem a maior cidade litorânea do Estado, o maior Porto da América Latina e grande biodiversidade. “A importância dessa região é enorme. Se o mar avançar conforme a previsão pessimista e conforme as tendências, os mangues simplesmente desaparecerão, porque não têm para onde se expandir. Será um grande prejuízo, com custo social para os pescadores e as populações ribeirinhas”. O estudo inclui ainda as áreas de despejo de dragados já utilizadas pela Codesp e as ressacas da Ponta da Praia. A área do Porto, no entanto, não deverá ser tão afetada devido à topografia. A maré avança lentamente pelo Canal do Estuário porque o relevo é suave e a água flui naturalmente.

Em palestra proferida especialmente para o grupo de visitantes da Câmara Municipal de Santos e para o Secretário Municipal do Meio Ambiente, Flávio Rodrigues Correa, os professores Paolo Alfredini e Emília Arasaki expuseram exemplos de diferentes maneiras de lidar com o avanço das marés em todo o mundo. As três possibilidades de medidas governamentais de políticas de gerenciamento costeiro são as seguintes:

-Deixar o curso natural ocorrer, pois as defesas naturais são flexíveis;
-Fazer um recuo programado (é uma solução a curto prazo, pois futuramente o local terá que ser desabitado);
-Defender a via urbana a todo o custo, construindo obras rígidas e diques, e depois realizando drenagem. A conseqüência problemática dessa medida, que foi adotada pela Holanda, é a erosão.

Alfredini explica que a partir de 1978 houve uma aceleração no processo de avanço das marés, e a tendência é crescente. “A expansão térmica muda as correntes marítimas, isso não tem jeito”. O próximo estudo a ser coordenado pelo grupo envolve a simulação dos ventos, que também é fator predominante.

O Diretor da Faculdade de Oceanografia da USP, Alfredo Paiva Filho, também participa do estudo. Para ele, que nasceu em Santos, nos últimos 50 anos as transformações no Meio Ambiente foram tão intensas que é impossível reverter o quadro atual. “A solução é preservar o que temos, com muita consciência e educação”.

Com a finalidade de discutir com a população e com a Imprensa as causas e conseqüências do aquecimento global, buscando as melhores soluções para a nossa Região, a Comissão Especial de Vereadores realizará um seminário em parceria com a Secretaria do Meio Ambiente. “Aprendemos nessa visita que a melhor solução é preservar, já que não se pode voltar atrás. Discutindo o tema com o Poder Público e com a população, sempre de maneira transparente, podemos contribuir de certa forma com o controle do avanço das marés e evitar que o cenário pessimista mostrado pelos professores da USP se torne realidade”, relata o Vereador Braz Antunes, Presidente da Comissão.

Priscilla Radighieri
Assessoria do Vereador Braz Antunes Mattos