Modelo santista para saúde mental é aplicado no Brasil

Técnicos voltam a Santos para celebrar duas décadas da intervenção

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O Ato Público Pelos 20 Anos da Luta Antimanicomial em Santos, realizado pela Câmara, na sexta-feira (22), possibilitou uma das mais aprofundadas análises sobre um dos fatos mais marcantes na história da saúde pública na cidade. O episódio repercute ainda hoje e o modelo de atendimento à saúde mental adotado, é utilizado atualmente nas mais diversas cidades brasileiras.
 
“Nós, até hoje, estamos implantando esta política antimanicomial pelo país, a partir deste modelo que a gente começou em Santos, e talvez nem Santos se de conta disso”, afirmou Luiz Antonio Melhado, um dos que estiveram à frente da intervenção na Casa de Saúde Anchieta. Para o psiquiatra Antonio Lancetti, o modelo dos Centros de Atenção Psicossocial – CAPs, em substituição aos manicômios, formou escola e é motivo de estudo e referência para as novas gerações.
 
Segundo Lancetti, com a intervenção, Santos iniciou a quarta revolução psiquiátrica. “Até em lugares onde vocês nem imaginam, no Rio Grande do Sul, no Amazonas, no Acre, no Norte e no Nordeste, em pequenos municípios, há CAPs David Capistrano espalhados pelo Brasil inteiro. Em Aracajú (SE) tem CAP que adotou exatamente a metodologia de Santos”, afirmou, referindo-se ao secretário de saúde da ex-prefeita Telma de Souza, à época da intervenção, em 1989. Ainda conforme Melhado, o então interventor no Anchieta, Roberto Tykanori Kinoshita, “foi profético 20 anos atrás”. “Nós passamos uma mensagem para o Brasil inteiro: nós podemos”.
 
Ao relembrar os bastidores da intervenção, Telma disse que a cidade, bem como o seu governo, não seriam saudáveis se compactuassem com a situação de horror vivida pelos internos do Anchieta. “Nós avançamos na questão da saúde mental neste país, com novas leis e nova percepção. Acredito que estamos no caminho certo e precisamos acertar o passo, para continuar uma obra que, por razões diversas, ou foi interrompida, ou não tem a pujança que um dia já teve”, afirmou.
 
Afetividade - Falando sobre como o modelo adotado em Santos baseou-se no respeito, na dignidade humana, no amor e no afeto, a psicóloga Fernanda Nicácio abordou a forma como a experência marcou profundamente a vida de todos que participaram dela. “Destaco essa possibilidade de um projeto coletivo transformar a realidade e de poder produzir uma capacidade afetiva muito singular entre todos aqueles que estavam naquele processo. Às vezes, no trabalho, sinto falta de intervenções mais difíceis ou complexas, ou também, mais singelas, como alguém para ler uma poesia para um usuário que não está bem, ou alguém para dizer, vamos lá dentro, na cozinha, fazer um brigadeiro”, comparou.
 
Também à mesa, Fernando Borgomone, da Secretaria de Cultura, representou o criador do Projeto Tam Tam, Renato Di Renzo, e discorreu sobre como os artistas se envolveram com a luta antimanicomial. “Em poucos momentos eu vi a arte significar libertação, de uma forma tão completa, de uma atividade humana tecida pela liberdade e a dignidade do homem. Amigos que tinham bandas de rock, grupos de teatro, de repente, todos estavam participando, fazendo parte de algo, num processo que foi riquíssimo”. Borgomone defendeu a necessidade de perpetuar esta luta. “Existe um mecanismo perverso de solapamento da nossa memória, porque se tira a memória, tira o orgulho, tira a capacidade de acreditarmos que se pode mudar alguma coisa”.
 
Telma considerou o ato de extrema importância e afirmou que o Legislativo cumpre o seu papel de estar envolvido em todos os aspectos da vida pública. O ato foi possível a partir das comissões permanentes de Saúde, presidida por Braz Antunes Matos (PPS) e de Cultura, presidida por Fábio Alexandre Nunes (PSB). Os vereadores Hugo Dupré (PMN), Adilson Jr. (PT) e Antonio Carlos Banha (PMDB) enviaram representantes. A deputada Maria Lúcia Prandi (PT) compareceu, e o colega de bancada na Assembléia, Fausto Figueira, do mesmo partido, se fez representar. O evento teve apoio do escritor, intelectual e membro do Fórum de Cultura, Flávio Amoreira. Além dos presentes à mesa, foram homenageados Domingos Stamato (póstuma), Sandra Lia Chioro dos Reis e Roberto Tykanori Kinoshita.
 
Maurici de Oliveira
Assessor de Imprensa - MTB 21503
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