Coordenadora nacional em DST/Aids esteve em Santos

Convite partiu da vereadora Telma de Souza

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O atendimento aos portadores de HIV/Aids e a prevenção em Santos passaram por exame na Audiência Pública realizada pela Comissão Especial de Vereadores – CEV criada para discutir este tema, nesta quinta-feira, na Câmara Municipal. Com a participação de representantes dos programas nacional, estadual e municipal de combate à doença, o evento lotou as galerias da Sala Princesa Isabel e terminou com a promessa de continuidade do debate.
 
Presidida pela vereadora Telma de Souza, líder do PT na Câmara, ex-presidente da Frente Parlamentar em HIV/Aids do Congresso Nacional, a audiência apresentou diferentes abordagens e uma rica quantidade de informações. “Tivemos a visão do governo federal, do governo estadual e municipal e percebemos claramente contradições substanciais que deverão ser aprofundadas. Vamos dar continuidade a este debate”, afirmou Telma. Segundo ela, "ficou bem claro que a Aids, como vem acontecendo ao longo da epidemia, vai mudando a sua face com velocidade, exigindo diferentes abordagens, tanto para evitar a dessiminação quanto no que diz respeito ao atendimento das pessoas vivendo com HIV", afirmou a vereadora.
 
A sobrevida dos pacientes ganhou atenção especial, uma vez que, por questões de saúde ou de direitos humanos, fica clara a necessidade do tratamento adequado. Conforme dados da coordenadora do Programa Nacional em DST/AIDS do Ministério da Saúde, Mariangela Simão, um estudo mostrou que pacientes acompanhados entre 81 e 89 tinham sobrevida de cinco meses a partir do diagnóstico. “Hoje, a sobrevida é superior a 108 meses. Significa que o paciente já não está morrendo tão rapidamente, o que vai exigir atendimento”. Segundo ela, a sobrevida vai alargando com o tempo e quanto mais adequado for o manejo e o atendimento, maior é a chance das pessoas que vivem com Aids, diagnosticadas agora, virem a morrer de outra coisa que não seja das doenças relacionadas à AIDS. “Para viver com Aids tem que melhorar este atendimento, o acompanhamento, a adesão ao tratamento e que as drogas estejam disponíveis no momento certo”.
 
Segundo Mariangela, a incidência da doença em Santos caiu nos últimos anos, de 113 casos por grupo de 100 mil habitantes, em 2006, para 37,5, em 2007. No Brasil, eram 15,8 casos (em 96) e 19 (em 2007). “Foi uma redução expressiva”, afirmou Mariangela, acrescentando, porém, que “apesar de ter diminuído muito em Santos, a taxa ainda é alta. Acho que isto está claro”. Sobre os avanços de Santos, devido a seu pioneirismo, ela destacou a redução da incidência entre usuários de drogas. Quanto à mortalidade, no entanto, o índice em Santos e região ainda é superior à média do país (6%) e o estado de São Paulo (7,2%). Segundo ela, um dos motivos apontados pelos estudos para a alta taxa de mortalidade na região é o diagnóstico tardio. “É um dos alertas para as secretarias que devem estar atentas”, disse.
 
Vírus recombinante - O infectologista, pesquisador e professor universitário Marcos Caseiro, há 19 anos atuando no Centro de Referência em AIDS – Craids apresentou dados de pesquisas próprias publicadas e alertou para uma epidemia diferenciada na região. Segundo ele, em 2005, Santos tinha 7.286 notificações de casos de AIDS. No ano passado, foram abertos 270 novos prontuários. “É uma cifra histórica, pois tínhamos em média de 190 a 200 casos/ano. Considerando em torno de 8 mil prontuários, isto aplicado à população de Santos, em torno de 420 mil habitantes, temos 2% da população afetada”. O índice é superior a média brasileira, de 0,6% por grupo de 100 mil habitantes. Os dados do Ministério da Saúde sobre taxa de incidência são estimados a partir de uma pesquisa com parturientes, chamada Sentinela Parturientes. Os dados de Marcos Caseiro dizem respeito a números absolutos.
 
Segundo ele, Santos tem uma epidemia diferenciada, mais antiga, mostrando inclusive vírus novos. “Desde 2000, e isto está na minha tese de doutorado e em trabalhos publicados, 36% dos indivíduos infectados adquirem algum tipo de vírus resistente a pelo menos um medicamento retroviral. Todos os pacientes na região teriam de fazer genotipagem antes de iniciar terapia. Detectamos 40% da população com um vírus recombinante, descrito por mim e outros pesquisadores, seqüenciado no meu laboratório de biologia molecular na Faculdade de Medicina”, alertou.
 
Caseiro apontou que o Craids já teve dez médicos e hoje conta com apenas cinco. A taxa de mortalidade, a seu ver, pode estar relacionada ao diagnóstico tardio e ao abandono do tratamento. Ele se queixou da falta de passes do transporte coletivo para os pacientes se dirigirem aos serviços e questionou a ausência do Programa de Internação Domiciliar específico para a AIDS.
 
A conselheira municipal de Saúde e agente de prevenção, Mônica Soares, soropositiva, fez coro a ele, contrariando informações da Secretaria Municipal de Saúde de que tudo está funcionando plenamente. “Faltam exames sim. Eu estou esperando um ecocardiograma há meses. Faltam passes, sim, para muita gente ir ao serviço para poder fazer o tratamento. É uma verdade. O Programa de Internação Domiciliar acabou. Era importantíssimo. A única casa de apoio, Secasa, mantida pelo município, está defasada, faltam funcionários. Acompanho casos de pessoas necessitadas, que não têm família, não têm ninguém - que me procuram como conselheira - e a casa não pode aceitar porque faltam funcionários. É muito grave. Não está tudo bem do jeito que se falou. Ouvir falar que está tudo bem, isso eu não posso aceitar”, desabafou. Ela firmou ainda que é modesto o número de agentes de prevenção. “Fizemos um plano maravilhoso. Era para ter 100 agentes, mas só foram contratados 23. No plano há dinheiro para isso, mas as contratações sempre emperram”.
 
Presidente da ONG Hipupiara, Beto Volpe falou sobre os 20 anos da declaração dos direitos da pessoa vivendo e convivendo com AIDS. “É preciso adotar ações de direitos humanos no ambiente da assistência, fazendo um clima propício no sentido de fortalecer, para que o paciente tenha adesão e, além disso, se torne protagonista a trabalhar em prol da luta pelos direitos das pessoas com HIV/AIDS”.
 
Maria Clara Gianna, coordenadora do Programa Estadual de DST/AIDS, apresentou dados do estado e destacou a necessidade do envolvimento de todos os setores relacionados às questões da AIDS, e principalmente, sobre a importância de se ouvir os pacientes. “As demandas têm de ser atendidas, têm de ser ouvidas. Há situações em que a escuta e o diálogo não existem e têm que existir para que se possa dar conta desta missão, com o envolvimento de todos os agentes para aprimorar o trabalho e lutar contra o preconceito”.
 
Prometendo a continuidade das discussões, a presidente da CEV, Telma de Souza, falou da importância da audiência. “Os serviços, hoje, não têm a eficiência que já tiveram quando foram criados. Oferecemos na época uma gama de programas que hoje não existem mais. Vamos aprofundar estas discussões por que quem não pode sofrer a ausência de políticas públicas é o usuário”, afirmou.

Maurici de Oliveira
Assessor de Imprensa - MTB 21503
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