Proposta será defendida junto ao Governo Federal, caso seja realizada a compra de caças franceses

A Comissão de Assuntos Metropolitanos da Câmara de Santos, presidida pela vereadora Telma de Souza, líder do PT, está retomando a luta, quase esquecida, dos contaminados com substâncias químicas da Rodhia na Baixada Santista. Audiência pública realizada no dia (1/12/09) no Legislativo teve esta finalidade e vários ecaminhamentos serão adotados para cobrar providências em todas as instâncias de poder.

Por se tratar de uma empresa francesa, uma das medidas sugeridas e que será colocada em prática imediatamente, é um pedido de contrapartida financeira ao governo daquele país, a fim de indenizar as vítimas. O pedido será encaminhado em carta aos ministérios da Casa Civil, da Defesa, do Meio Ambiente e à Presidência da República, a ser adotado caso o Brasil venha a celebrar contrato de compra de aviões com aquele país, fato que vem sendo discutido no âmbito do Governo Federal. “Vamos formular este pedido em nome da Câmara Municipal, esclarecendo sobre a exposição da região aos organoclorados por meio da Rodhia, para que na transação comercial para a compra dos caças, se ela for feita realmente com a França, haja contrapartida financeira para a redução dos danos causados pela empresa na Baixada Santista”, afirmou Telma.

A audiência foi rica em dados sobre a contaminação de trabalhadores que até hoje sofrem problemas de saúde. Foram vários os depoimentos de ex-funcionários relatando as consequências enfrentadas, sem que tenha havido uma reparação. Também são vários os relatos de óbitos e inclusive, de sequelas passadas na transmissão vertical, de pais para filhos. “Aqui estiveram técnicos, ex-funcionários, pessoas que sofreram danos e doenças, especialmente tipos de cânceres, fazendo denúncias sobre questões familiares em que crianças foram contaminadas em função do DNA, ou seja, doenças passadas geneticamente. Estamos longe de uma soluçao final, mas as pessoas que estão aqui deram muitas sugestões e vamos continuar esta luta, organizando a população, indo de cidade em cidade, fazendo diversas reivindicações a órgãos municipais, estaduais e federais”, disse Telma.

Conforme os depoimentos, as dificuldades enfrentadas pelos contaminados são várias. Em alguns casos, ocorre a espera de anos por um simples exame. Em outros, despachos judiciais não reconhecem nexo causal, por exemplo, entre causa mortis e a contaminação. Dentre os vários relatos, o ex-funcionário Valmir Bodruc contou como não apenas ele, mas também sua família sofre até hoje. Segundo disse, a filha, hoje com 21 anos, desde criança apresentou problemas. Ainda pequena, quebrou o braço brincando de boneca. Os exames mostraram um tumor ósseo. Jovem, ela desenvolveu problema de tireóide, queda de cabelo constante e ciclo mestrual alterado. A esposa também teve problemas com tireóide e outras sequelas. Ele, por sua vez, já teve células cancerosas detectadas, períodos de dor de cabeça intensa, deficiência de memória e raciocínio. Teve ainda uma síndrome do pânico e luta com problemas paralelos. Valmir trabalhou no setor de tetracloreto de carbono e no incinerador da fábrica.

Foi do vereador Geonízio Pereira Aguiar (PMDB), ex-funcionário da empresa, a sugestão para realizar a audiência pública, da qual participou ainda o vereador Fábio Alexandre Nunes (PSB). Outros vereadores enviaram representantes, assim como a Secretaria de Saúde de São Vicente. O Fórum da Cidadania esteve representado por Ibrahin Tauil, assessor do vereador Hugo Dupré (PMN). Também teve participação importante no evento a Associação dos Contaminados por Organoclorados. A jornalista Noemi Francesca de Macedo, do jornal Espaço Aberto, que recentemente voltou ao tema relatando uma indenização concedida após um processo de quase 20 anos, deu um depoimento importante. Dados de pesquisas sobre o tema estão disponíveis no endereço eletrônico da Unisantos. O inteiro teor da audiência estará disponível para interessados na Câmara Municipal.

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