Célio Nori

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Autoridades, sras. e srs,

Foi com grande honra que aceitei o pedido feito pelo meu colega de bancada, Reinaldo Martins, para vir saudar um dos homenageados desta noite, o sociólogo Célio Nori. Quero também cumprimentar os outros dois homenageados, o provedor da Santa Casa, o sr. Manoel Lourenço das Neves e o desembargador Gildo dos Santos, também merecedores de efusivas saudações pelo trabalho que desenvolvem em favor da comunidade santista.

Mas coube a mim falar de Célio Nori e confesso que o faço com certa facilidade porque o considero um companheiro de lutas. Por diversas vezes, estivemos lado a lado em defesa da cidadania e dos direitos humanos. É uma pessoa que respeito e admiro pelo seu engajamento e seriedade no movimento social.

Para aqueles que não conhecem a sua trajetória, vou traçar um breve perfil e destacar algumas atividades e episódios nos quais ele teve pleno envolvimento. Formado em Ciências Políticas e Sociais pelo Instituto Municipal de Ensino Superior de São Caetano do Sul, possui especialização em Filosofia da Educação pela Universidade Metodista de Piracicaba e mestrado em Educação Física pela Unicamp.

Ingressou no Sesc em 1975, e começou inicialmente na Unidade Móvel de Orientação Social (UNIMOS), pela qual desenvolveu vários projetos de ação comunitária na região de São Carlos. Mais tarde, transferiu-se para Piracicaba, onde exerceu a função de Chefe do Setor Social do Sesc daquele município.

Em 1983, veio para o Sesc de Santos, onde assumiu a função de gerente-adjunto, com a incumbência de coordenar o relacionamento inter-setorial na programação elaborada por aquele centro cultural e desportivo. Nestes 22 anos em que exerce o cargo, Célio Nori participou ativamente na concretização de importantes projetos, tais como: o trabalho social com a Terceira Idade, o Programa Mesa-Brasil, Projeto Curumim, Turismo Social, Festival Sesc Móbil de Ginástica e Dança, Bienal de Dança, Projeto Rumos do Teatro, Terceiras Terças de Literatura, Projeto de Debates “Público e Notório”, Semana da Cidadania, Jogos do Comércio e Copa Sesc.
Em 1993, integrou a equipe de governo do ex-prefeito David Capistrano, sendo o titular da Secretaria Municipal de Esportes. Em sua gestão, as escolinhas municipais de esportes foram ampliadas e o Conselho Municipal de Esportes  valorizado. À frente da Semes, foi o idealizador do projeto de lei que deu origem à atual Fundação de Esportes de Santos.

Ele também já ocupou uma cadeira nesta Casa. Em 1996, exerceu a vereança, em substituição a Mariângela Duarte, que havia sido eleita deputada estadual. No Legislativo, demonstrou firmeza e coerência de princípios, honrando o mandato outorgado pelo povo.

Célio foi ainda diretor da Faculdade de Educação Física de Santos,  e é professor universitário desde 1986. Já lecionou na UNIMES e atualmente é professor do curso de Gerontologia da Universidade Santa Cecília, onde também é o responsável pela orientação dos trabalhos de conclusão de curso dos alunos de Educação Física.

Em 1987, participou da fundação do diretório municipal do Partido Socialista Brasileiro, o PSB, e chegou a ocupar a secretaria geral do partido. Em 1989, fundou a Sociedade de Melhoramentos do Embaré e foi o seu primeiro presidente.

É autor do livro “Boleiros da Areia: O Esporte como Manifestação de Cultura e Cidadania”, editado pelo Sesc em 2002, e que relata a evolução do futebol de praia em Santos.

Célio Nori foi o principal articulador na criação de um organismo que, em apenas três anos de existência, já prestou relevantes serviços à população santista. Estamos falando do Fórum da Cidadania, que reúne representantes de mais de cem entidades, entre organizações não-governamentais, universidades, órgãos públicos, associações e comunidades religiosas, tendo como diretriz a idéia da democracia participativa, de modo a consolidar o chamado Poder Cidadão.

Eleito coordenador geral do Fórum, Célio tem sido o motor desse movimento, que entre outras iniciativas, realizou a Conferência Metropolitana da Cidadania, instalou um comitê de combate à corrupção eleitoral, e promoveu, em parceria com esta Câmara, o Seminário Comunidade e Poder Legislativo. O Fórum organiza discussões sobre a autonomia dos conselhos municipais e a reforma política, e tem como uma de suas bandeiras a implementação do Orçamento Participativo em nossa Cidade.  

Célio Nori, portanto, é um cidadão que dedica-se com afinco à idéia da participação popular. Ainda no período iluminista, o grande filósofo Jean Jacques Rousseau defendia a democracia direta como a melhor forma de governo. Mas, infelizmente, passados mais de três séculos, ainda engatinhamos nessa concepção de poder.

Hoje, vivemos um momento em que, mais do que nunca, a democracia participativa deve ser estimulada. Inspirados nessa batalha empreendida por Nori, precisamos fazer com que a atual crise política, que nos envergonha e nos causa indignação, seja purificadora, no sentido de incentivar a adoção de mecanismos que impeçam esquemas fraudulentos de financiamento de campanhas eleitorais, de criar dispositivos legais mais rigorosos no combate à corrupção e na punição dos chamados crimes do colarinho branco.

Considero a participação popular como o melhor  remédio para a crise político-institucional que enfrentamos. Passamos do regime militar, que instaurou uma ditadura odiosa e persecutória, para uma democracia representativa, que tem se mostrado sólida, mas que ainda apresenta distorções gritantes, fruto do aliciamento de eleitores, do abuso do poder econômico, e de esquemas clientelistas.

Diante dos sucessivos escândalos e da falta de transparência de nossas instituições basilares, o que não podemos é deixar espaço para a resignação, para o desânimo, para o pensamento derrotista. Se pensarmos assim, se nos alienarmos, se nos individualizarmos, estaremos abrindo mão de nossas ideologias, de nossos sonhos, do futuro das próximas gerações. E o conformismo é a porta aberta para os oportunistas, demagogos e ditadores.

Sobre essa questão, quero citar breves trechos de um dos últimos textos produzidos pelo educador Paulo Freire, intitulado “Do Direito e do dever de mudar o mundo”, no qual ele reflete sobre a necessidade de lutarmos sempre pelos nossos ideais.

“O que não é possível é pensar em transformar o mundo sem sonho, sem utopia ou sem projeto. Os sonhos são projetos pelos quais se luta. Sua realização não se verifica facilmente, sem obstáculos. Implica, pelo contrário, avanços, recuos, marchas às vezes demoradas. Implica luta.
Temos o dever de, em nenhuma circunstância, aceitar ou estimular posturas fatalistas. O dever de recusar afirmações como: “é uma pena que haja tanta gente com fome entre nós, mas a realidade é assim mesmo”. “Galho que nasce torto, torto se conserva”. O nosso testemunho, pelo contrário, se sonhamos como uma sociedade menos agressiva, menos injusta, menos violenta, mais humana, deve ser o de quem, dizendo não a qualquer possibilidade em face dos fatos, defende a capacidade do ser humano de avaliar, de comparar, de escolher, de decidir e, finalmente, de intervir no mundo”.

Com as palavras desse grande mestre que foi Paulo Freire, quero finalizar meu pronunciamento, pedindo que a tenacidade e o compromisso demonstrados por Célio Nori em sua caminhada como cidadão sejam sementes que frutifiquem em nossa sociedade e que o Poder Cidadão, num futuro muito próximo, transforme-se em uma instância decisória definitivamente inserida em nosso sistema político. Todo poder aos cidadãos!

Muito obrigado!