Associação Instrutiva José Bonifácio recebe homenagem

Sessão solene marcou os cem anos da Associação.

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DISCURSO DO VEREADOR BRAZ ANTUNES MATTOS NETO NA SESSÃO SOLENE DE ENTREGA DA PLACA COMEMORATIVA AOS CEM ANOS DE EXISTÊNCIA DA ASSOCIAÇÃO INSTRUTIVA JOSÉ BONIFÁCIO, REALIZADA EM  4 DE SETEMBRO DE 2007, NA “SALA PRINCESA ISABEL” DA CÂMARA MUNICIPAL DE SANTOS.
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Srs e Sras.:
Meus amigos:
 
Os pedacinhos multifacetados que formam a personalidade de cada pessoa são, em boa parte, forjados pelos bancos escolares. De tudo que aprendemos sempre resta um pouco, escreveu o poeta Carlos Drummond de Andrade. E de tudo o que aprendemos e esquecemos, o que resta chama-se CULTURA, definem os filósofos.

De tudo o que escutamos dos Professores  e o cérebro resolve armazenar,   forma-se a MEMÓRIA. E de tudo o que vivenciamos com os colegas de estudo, surge a história de vida, criam-se os laços de convivência. A escola é portanto a primeira lição e a primeira experiência de vida em sociedade.
A Física e a Psicologia juntam-se para desenvolver teorias sobre as vibrações geradas pelos acontecimentos passados. As partículas daquilo que já ocorreu, sustentam  alguns estudiosos, não desaparecem jamais.

Por isso, quando um novo aluno entra na sala de aula, ele está vivenciando o mesmo ambiente em que se formaram as mais diversas personalidades. Será que é possível absorver algo, sentir algum pensamento ancestral, sentir a vibração ou a alegria da descoberta? Discussões metafísicas à parte, é provável que sim.

Quando pisamos as mesmas pedras das ruas da mesma Cidade, estamos percorrendo o mesmo caminho que recebeu os nossos antepassados. Milhares e milhares de pés ali passaram. Cabe a cada um ter o coração aberto para receber estes ventos da sabedoria, do conhecimento, da vivência. E carregar para sempre no peito a História do lugar em que vivemos.

Para viver e para sobreviver às armadilhas da existência, vivemos contando histórias.  Contamos aos outros a respeito de como somos, o que fizemos, o que ganhamos e perdemos, como pensamos e como nos sentimos.Estas histórias muitas vezes nos levam de volta ao passado, evocando lembranças, fazendo a ponte que liga aquilo que fomos com aquilo que seremos. O que eu estou tentando dizer é que tudo o que aprendemos e vivemos  influencia cada atitude nossa. O que faremos amanhã é em boa parte o fruto de ontem.

E ontem estávamos nos bancos escolares, descobrindo a vida e o valor do conhecimento. Um prédio nunca é somente uma construção de cimento e pedra. Um prédio escolar nunca é nem será apenas tijolo, serragem, argamassa. Suas colunas de sustentação, suas sapatas  e seus batentes  terão sempre incrustados materiais tão importantes quanto eles: a instrução, a sabedoria, a cultura.

Pois aquela construção da Avenida Conselheiro Nébias  219, na esquina com Freitas Guimarães, tem na imponente fachada o nome do maior dos santistas, o Herói da Pátria, o libertador, o verdadeiro construtor do Brasil. Como se não bastasse o nome ilustre, contam os livros que um dos nossos maiores poetas, Martins Fontes, ali ensinou, assim como Benedito Calixto e Porchat de Assis. Um mero exercício mental permite de repente imaginar o sopro de vida que deveria ser uma aula ministrada por estes nomes.

Acredito humildemente que a expressão certa é esta mesmo: a Escola José Bonifácio foi desde a sua fundação um sopro de vida na formação do perfil santista. Uma conclusão que  surge da constatação não só da alta competência com que foi administrada, do valor realçado dos seus  inesquecíveis Professores. Mas, especialmente, porque a José Bonifácio foi pioneira. Há cem anos, a perspectiva de uma formação educacional de fato era algo de real valor. Uma oportunidade única de ascender, de buscar uma nova condição mental, social, individual.

Os primeiros cursos superiores de Santos foram criados pela Associação Instrutiva José Bonifácio, a Faculdade de Direito e a Faculdade de Ciências Econômicas e Comerciais. Senhores e senhoras, eu estou dizendo que os dois primeiros cursos superiores de Santos ali nasceram! Ou seja, ali nascia um novo ciclo para Santos, uma nova condição educacional, um novo salto para o futuro! E hoje, abrindo um novo ciclo, a Escola José Bonifácio volta às mãos do Município.

A grande História é aquela que faz os homens evoluirem e que renova continuamente os corações e mentes. Fala-se hoje que estamos na era da Sociedade da Informação. A velocidade, a tecnologia, a quantidade de informação e a afirmação de que “Informação é Poder” levam a isso. Mas não basta ter Informação, principalmente quando a grande massa informativa resvala pelo superficial, pelo banal, pela repetição sem sentido e sem utilidade. Portanto, acredito muito mais que vivemos a Era da  Sociedade do Conhecimento. E Conhecimento se produz e se multiplica é na Escola.

Esta Escola que hoje homenageamos por seu centenário é parte importantíssima da nosa História. Algumas das cabeças mais privilegiadas de Santos ali ensinaram, como Ariosto Guimarães, Arquimedes Bava, Delphino Stockler de Lima, Cleóbulo Amazonas Duarte, Valdomiro Silveira, Alcides Lobo Viana, Mário Alcântara, Guilherme Álvaro e o grande Rui Ribeiro Couto. E ali ensinou João Papa Sobrinho, que por 65 anos  viveu a Escola, sendo seu Diretor por um quarto de século.

Além da grande força moral de João Papa Sobrinho, a Escola José Bonifácio recebeu também seu neto, que foi Professor e Diretor. Hoje, João Paulo Tavares Papa dirige a todos nós, por vontade democrática e irrefutável do povo santista. Além de todo este reconhecimento, que é notório,  existe um outro motivo para que, como Vereador, eu tenha apresentado o Deecreto Legislativo nº 024, de 16 de outubro de 2006, concedendo uma placa em homenagem aos cem anos da Associação Instrutiva José Bonifácio.

A família Papa, que comandou a escola na maior parte da sua existência, incluindo o Professor Papa Sobrinho, o hoje Prefeito Papa e a atual Presidenta do Fundo Social de Solidariedade, Silvia Papa, que foi também sua Diretora, é uma grande honra para mim dizer que meu avô, Braz Antunes Mattos, que trabalhava com exportação de banana, manteve uma longa amizade com João Papa Sobrinho e sua esposa, Hilda D’Onófrio, que também escolheu o magistério como profissão e missão de vida. Para completar, diversos parentes meus estudaram na José Bonifácio.

Hoje, a Unidade Municipal de Ensino José Bonifácio está iniciando um novo ciclo. Antes, ali estudaram duas das maiores atrizes brasileiras de todos os tempos, Cacilda Becker e Cleide Yáconis, além de futuros políticos como Paulo Gomes Barbosa, Koyu Iha e Antonio Feliciano. E também o educador Milton Teixeira. Hoje, o mesmo espaço estará recebendo crianças de bairros que representam a própria sustentação do crescimento de Santos, como Vila Nova, Vila Mathias e Paquetá.

O espaço original localizava-se na Rua Sete de Setembro número 2. Em 1912, passou a ocupar o número 140 da Rua da Constituição, no célebre palacete de João Otávio, com todos os seus belos azulejos portugueses. Foi um Vereador, Raimundo Sóter de Araújo, que apresentou o Projeto de Lei que instituiu a Academia de Commércio, com dois emes, de Santos.

A Lei nº 258  foi promulgada em 24 de abril de 1907 e o primeiro Diretor foi o advogado e  jornalista Aquilino Amaral, sucedido por Adolpho Porchat de Assis. Em 1917, foi determinado por lei que se fundasse uma Associação para cuidar da Escola, que já recebia o nome de José Bonifácio.  E assim surgiu a Associação Instrutiva, com curso primário, ginasial, comercial e normal.

Em 1934, viriam as faculdades de Direito e de Ciências Econômicas e Comerciais.Os ventos da memória trazem outros nomes de jovens estudantes: Alice Arruda, Paulo Moutinho, Dilma Vasconcelos, Abraão Ribeiro, Samuel Ribeiro, Valentin Bouças, Moacir Álvaro, Roberto Catunda, Evandro Silveira, Reinaldo Porchat, Sócrates Aranha de Menezes, Hugo Sportelli, Araci Cajado de Oliveira, Djalma Maia, Leovigildo Trindade, Aluísio Rocha, Humberto Sportelli, Oswaldo Franco Domingues e Nélson Lobato.

E ecoam ainda as vozes de Mestres como Vahia de Abreu, Tomás Catunda, Hipólito do Rêgo, Padre Gastão de Morais, Astolfo Correia, Nilo Costa, Tarquínio Silva, Antonio Eberle dos Santos, Vladimir Alfaya, Eugênio de Assis, Moura Ribeiro, Sóter de Araújo, Alfredo Tabira, André Freire...

Milhares de alunos, muitos dos quais brilharam na vida de Santos.  Outros tantos foram seus professorres, reunindo alguns dos nomes mais importantes da História. São tantas as lembranças que minha alma de político novo me fazem apresentar ao Prefeito João Paulo, neto do Professor, Secretário e Diretor  da Escola, Secretário de Educação do Município,  João Papa Sobrinho, filho de uma bela tradição de Educadores, uma sugestão séria:

Prefeito, dê um jeito de reunir num prédio só todas estas memórias, todos os documentos e todas as fotografias possíveis, todos os livros que ainda existam, e crie o Museu da Educação Santista. Que mostre todo o nosso rico passado e estude o presente, para projetar o futuro da Educação . Afinal, esta é a Terra que ensinou ao Brasil todas as grandes virtudes que um País deve ter e cultivar.

E que  em 9 de abril de 1878, no Largo da Coroação número 11 (hoje Praça Mauá), abriu a Escola do Povo. Pois desde então, nós,  o povo santista, continuamos a aprender.  E a ensinar com muito gosto.

Muito obrigado a todos.

Braz Antunes Mattos Neto
Vereador - Líder do PPS.