Amêndoa, avelã, nozes...50 anos de Viena

Doceria mereceu homenagem da Câmara

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Uma emocionante sessão solene marcou nesta noite (17/08/10) a entrega, pela Câmara de Santos, de placa em homenagem à Confeitaria Viena, pelos seus 50 anos. Para Telma, autora da proposta, foi o momento de render louros à memória olfativa e voltar à juventude. Ela explica: trata-se da memória do período em que era coordenadora pedagógica no colégio Ramos Lopes, vizinho à Viena. "Não conseguíamos conter o suspiro ao sentir aqueles aromas de amêndoa, avelã, nozes e chocolate".

À frente da Viena, há décadas, Carlos Ernesto de Campos Witt, agradeceu a homenagem. "É uma honra. São poucas as pessoas que têm acesso ou que vão ser homenageadas. Eu, como santista, acho que é um privilégio. E toda vez que você é privilegiado,tem de olhar lá para cima e ageradecer,porque alguém, lá, pos a mão e ajudou a sermos escolhidos. Assim como os árabes dizem: Maktoub. Se tiver que acontecer, acontece, e aconteceu. Eu nunca esperava. Minha vida sempre foi pautada pelo dia a dia. Essas coisas estão acontecendo, é um privilégio e estou muito contente com isso", afirmou.

Veja na íntegra o discurso de Telma de Souza

Mais do que açúcar e afeto
 
Amêndoa, avelã, nozes e chocolate. É manhã. Estamos na escola. O aroma rescende e nos ouriçamos. Não conseguimos conter o suspiro. A fonte deste estímulo olfativo, a confeitaria ao lado. E é para lá que vamos logo mais, no intervalo.

Aqueles odores estão até hoje em mim, ainda mais quando ouço o compositor Paulinho da Viola, que diz: Eu não vivo no passado, é o passado que vive em mim.

E vive, até hoje, a memória olfativa daqueles dias de escola no Ramos Lopes, como coordenadora pedagógica. Até hoje amêndoa, avelã, nozes e chocolate me remetem àquele período. Imagino que, por seguidas gerações, por décadas, a vizinhança da Confeitaria Viena é agraciada com os brindes aromáticos de sua freqüente e artesanal produção, composta por uma seleta lista de refinadas guloseimas e salgados.
   
Donde se explica um cliente vir de outro estado, a fim de mostrar ao filho o doce que ele comia, há 30 anos? E surpreende-se: o doce continua sendo feito da mesma forma, com os mesmos ingredientes, esmero e carinho.

Uma cliente, jovem na década de 70, hoje traz a filha para comer os mesmos doces de sua juventude e a tradição vai se perpetuando, passando de geração a geração.

Se as receitas foram mantidas, o negócio prosperou. Porém, várias foram as mudanças ao longo de meio século de história, em que foi necessária a ousadia da família Witt para manter a atividade. Logo na primeira década, os turbulentos anos 60 trouxeram as greves de trabalhadores, a escassez de produtos... Anos após anos, com sabedoria, as dificuldades foram transformadas em oportunidades.

Se no começo, a intenção era vender, faturar, tal o pensamento da época, o tempo ensinou que a vocação da Viena seria um pouco mais ampla e simbólica. Segundo Carlos     Ernesto  Campos   Witt,   sucessor  à   frente   dos negócios, a vida ensinou que cada doce degustado pode ser comparado ao arremesso de uma flecha com boas emanações; que a função exercida na sociedade é a de servir, no mais profundo sentido, qual seja, amar o próximo, naquilo em que se pensa e se pratica. “Fazemos doces”, explica seu Carlos.

Com esta visão, ancorada no respeito aos clientes, estes se tornaram amigos. Dai, a tradição, a fidelidade a princípios e ao princípio; a um tempo em que foram construídos os primeiros prédios no bairro, a partir da Rua Tolentino Filgueiras; ao tempo da construção do edifício 514 da Avenida Ana Costa, obra que o menino Carlos Ernesto viu ser erguida. Ele contava 14 anos quando a Viena foi inaugurada. Num desígnio jamais imaginado, difícil de ser assimilado, com a morte do pai dois dias após a inauguração, de ajudante, ainda em tenra idade, Carlos viria a liderar o negócio da família.

A firmeza de propósito e a dedicação dos Witt pela confeitaria tinham uma razão histórica. A família já estava naquele local antes mesmo da construção do prédio. Eles eram proprietários de uma casa no terreno onde foi erguido o edifício. Ali estavam, ali permaneceram. Souberam aceitar as mudanças de cunho imobiliário, viram a cidade crescer ao redor, conviveram com as famílias da época, como os Forbes, onde hoje está uma papelaria, os Abreu, onde hoje é um banco, com dona Liliana, imortalizada em nome de cantina, e várias outros nomes conhecidos.

A família, assim como a própria confeitaria, viu o fim da era romântica dos bondes, viu o comércio crescer, a urbanização, o fim das enchentes, a chegada de novas lojas, dos shoppings... A tudo isso aquela simpática fábrica de doces e encantos, mais que resistiu; ao contrário, angariou a simpatia da comunidade, dos visitantes, e se estabeleceu definitivamente no mercado.

Em 10 de janeiro último a Confeitaria Viena completou  exatos  cinquenta  anos.  Fundada por Frederico
Jobst, Hans Korfellner e Helmuth Witt, em 1960, no coração do Gonzaga, o estabelecimento firmou tradição ao servir com brilhantismo seguidas gerações de santistas e turistas. Carlos Ernesto Witt casou-se com Maria Eliza, com quem tem as filhas Daniela e Débora, e delas, tem as netas Camila e Brenda.

Helmuth Witt, brasileiro, nascido em Santa Tereza, no Rio de Janeiro, é filho de alemães, cujo pai veio para o Brasil na virada do século passado. Foi funcionário público da Prefeitura de Santos, tendo implantado a primeira versão do holerite para o funcionalismo. É também, fundador da Caixa de Pecúlio dos Servidores de Santos.

Helmuth associou-se ao vienense Hans, que deu nome à confeitaria, e ao alemão Frederico. Com o tempo, a família Witt teve novos sócios, tendo sempre à frente o sucessor, Carlos Ernesto Campos Witt.
       
Para a família, o sucesso da Confeitaria Viena está relacionado   ao    receituário,   que   segue   basicamente   a  vertente de quatro escolas da culinária mundial: austríaca, francesa, italiana (nos sorvetes e cremes) e a afro-brasileira, na feitura do tentador quindim. E mais, avisa Carlos: aqui o chocolate é chocolate, o creme de leite é creme de leite. Outros ingredientes? Carinho, atenção e vontade de bem servir.

Os Witt orgulham-se de atender aos santistas e turistas com dedicação, atravessando gerações, sendo uma referência, inclusive internacional, por meio dos fornecedores de navios. Com um passado de glórias, a Viena é um pedaço da culinária internacional em nossa turística cidade de Santos. Aceitem, humildemente, esta nossa singela homenagem pelos 50 anos bem vividos da nossa querida Confeitaria Viena.

Telma de Souza (PT)
Vereadora