Café Carioca recebe placa comemorativa

Diversas pessoas prestigiaram a noite de comemoração aos 66 anos do Café Carioca.

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A Câmara Municipal de Santos homenageou na última sexta-feira, dia 25 de novembro, o Café Carioca, tradicional comércio do centro santista.

O estabelecimento que comemora 66 anos de existência é famoso por seus pastéis e serve como ponto de encontro para muitas pessoas que trabalham nas redondezas.
 
Durante o evento, o sócio Serafim de Almeida Ratto recebeu uma placa comemorativa pelo aniversário do “Carioca”.
 
O vereador Benedito Furtado (PSB), autor da propositura, fez o discurso de saudação. A Solenidade foi presidida pelo vereador Paulo Gomes Barbosa(PSDB), presidente da Câmara.
 
O evento aconteceu às 19 horas na Sala Princesa Isabel, situada no Paço Municipal s/nº.


Confira o discurso do Vereador Benedito Furtado

66 anos do Café Carioca

“Em alguns momentos é preciso parar tudo e pensar em nós mesmos, nos amigos e nas pessoas que amamos. Aí, o melhor é encostar no Café Carioca, deixar o tempo passar e
aproveitar, rir muito e se divertir”.

A frase, do jornalista Carlos Tramontina, da Rede Globo, editor do programa Antena Paulista, ilustra com perfeição o que significa o Café Carioca para todos aqueles que, ao longo destes 66 anos, fizeram dele ponto de encontro e de lazer — deixando entre aquelas quatro paredes os problemas do dia-a-dia, os aborrecimentos e as mágoas da alma.

Mas o que tornou o Café Carioca um ponto de referência para aqueles que visitam a cidade ou o ponto de encontro por excelência de todos que transitam ou vivem o seu dia-a-dia nesta região? Talvez seja um aspecto simples, ligado à sua história e que caracteriza os lugares neste planeta onde nos sentimos bem: o Café Carioca parece ter alma !
Alma criada ao longo do tempo, desde o longínquo ano de 1939, quando o português Manoel de Paiva Fernandes inaugurou o Café e Bar Carioca, ainda na Rua Dom Pedro II, nº 16 — e que continuou um ano depois, quando o Seu Manoel convidou para sócio o amigo Francisco de Oliveira Seabra.

No dia 24 de novembro de 1940 ambos instalavam o Carioca na esquina da Praça Mauá, onde se encontra até hoje. Em texto de próprio punho, o Seu Manoel conta que o aluguel era um pouco caro para a época conturbada pela 2ª Guerra Mundial, e ele estava com receio. Mas, segundo suas próprias palavras : “a solução era ir para lá”.

Uma curiosidade: a segunda sede do Café Carioca foi inaugurada no mesmo dia e mês da primeira: 24 de novembro.

Ali os dois sócios se mantiveram por sete anos. Em novembro de 1947, venderam a casa para o Sr. Jadir Trindade. Foi o fim da primeira fase, o Carioca mudava de dono e Seu Manoel perdia o emprego, apesar de sua grande experiência no ramo, iniciada no Lanches Praia.

Ainda de acordo com suas memórias, um dia estava ele na Rua João Pessoa, em frente ao Bar Caravelas, e encontrou com o amigo Serafim de Almeida Rato. Conversa vai, conversa vem, Serafim o convidou para, juntamente com outro amigo, Arlindo Quaresma, fazer uma sociedade para a compra de um bar.

O plano estava em estudo quando, por obra do destino, Seu Manoel passou um dia pelo Carioca e em conversa com o então proprietário, contou-lhe que ele e mais dois sócios pretendiam comprar um negócio na praia. Mais que depressa, Jadir se mostrou interessado em vender o Carioca e os três iniciaram a segunda fase do negócio. O movimento melhorou, a clientela aumentou a tal ponto que resolveram admitir mais um sócio, Antonio Maneira da Silva.

Essa composição societária durou 25 anos.
Em janeiro de 1974, o Seu Manoel e Seu Antonio Maneira cederam seus lugares para Manoel Gomes Mineiro, o Manequinho, e para José Rodrigues, o Pepe.

Em maio de 1980, saiu Arlindo Quaresma e em Seu lugar entrou Marcos Gregório Rodrigues, sobrinho do Pepe. Em 1997, foi a vez de sair o Manequinho, e entrar no lugar o Seu genro, Antonio Soares Costa, o Soares, meu antigo companheiro da Companhia Docas de Santos.
Hoje, com 91 anos, Seu Serafim é o único remanescente dos fundadores, pelo menos da segunda fase, iniciada em 1948.

 Outra curiosidade diz respeito a uma dúvida que já deve ter ocorrido a muita gente: qual a origem do nome Café Carioca? Essa é uma questão envolta em mistério. Há, na verdade, duas versões. A primeira, diz que o nome se deve ao fato de que havia uma turma de cariocas trabalhando no cais e que esse nome seria um atrativo por lembrar o Estado de origem desses portuários.

A segunda diz que o Seu Manoel, quando veio do Rio, deixou lá um irmão que tratava por “meu irmão Carioca”. A denominação do estabelecimento seria, assim, uma forma de homenageá-lo e fazer presente, no seu dia-a-dia, a saudade tão marcante na personalidade e na alma dos portugueses.

O Carioca tornou-se, nos dias de hoje, muito mais do que um importante estabelecimento comercial plantado no Centro de Santos. É, antes de tudo, como já dissemos, um ponto de encontro de amigos.

Objeto de reportagens, citações e recomendações em jornais e revistas de todo o pais, o Café Carioca tem sido ponto de parada obrigatório para políticos, intelectuais e artistas que visitam Santos. No rol de freqüentadores podemos nomear, entre outros, Franco Montoro, Severo Gomes, Ciro Gomes, Orestes Quércia, Luíza Erundina, Erasmo Dias, Aloísio Mercadante, Mário Covas, Ulysses Guimarães, Geraldo Alckmin, os ex-presidentes Getúlio Vargas, Eurico Gaspar Dutra, João Goulart e Jânio Quadros, o presidente Lula, os atores Alexandre Borges, Nuno Leal Maia e Serafim Gonzalez, o teatrólogo Tanah Corrêa, o comediante Ary Toledo e a esportista Hortência. Em seu site aparecem dezenas de freqüentadores anônimos, derramando elogios a partir de lugares tão longínquos quanto o Estado do Amazonas.

Seu Serafim, remanescente daquele grupo de fundadores, Wilson, filho do Seu Manoel, D. Esmeralda, representando o Seu Antonio Maneira, D. Maria Angelina, representando o Seu Manequinho, Manoel Gomes Mineiro, Seu Arlindo, os gerentes, do passado e do presente, Ivo Luiz Fernandes, Antonio de Almeida Soares, sobrinho do Serafim, Antonio Arroyo, o Manolo, cunhado do Pepe, os ex e atuais cozinheiros, copeiros e garçons que lutaram e se dedicaram, tanto quanto os sócios, para que aquele pequeno e aconchegante espaço tenha se transformado em um patrimônio de nossa cidade. Enfim, todos que estão aqui hoje — e mesmo aqueles que não estão ou já se foram, mas que tenho certeza acompanham atentamente esta merecida homenagem, quero que saibam a importância do Café Carioca para Santos e para todos nós, santistas ou que adotamos Santos como nossa terra.

Vocês, de alguma forma, criaram algo muito além de um simples estabelecimento comercial. Criaram mais um monumento à nossa hospitalidade e ao nosso fraterno convívio com os forasteiros.
Recebam a nossa reverência, os nossos aplausos e o nosso imorredouro carinho.

Muito obrigado.

Vereador Benedito Furtado