Câmara entrega placa comemorativa ao Jabaquara Atlético Clube

Sessão solene reuniu simpatizantes do clube da Caneleira, que comemora 90 anos.

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A Câmara Municipal de Santos entregou nesta terça-feira placa comemorativa aos 90 anos do Jabaquara Atlético Clube. A Sessão solene foi realizada na Sala Princesa Isabel, do Paço Municipal.

Discurso na íntegra do vereador Manoel Constantino

Quero iniciar minha fala fazendo uma pequena retrospectiva da cidade de Santos no início do século XX, em especial nas duas primeiras décadas. Com certeza, nenhum de nós presente teve a felicidade de vivenciar tais momentos. Nessa época, as pessoas viviam traumatizadas. A cidade tinha uma população de aproximadamente 50 mil habitantes, onde metade fora dizimada em apenas uma década, vítima de epidemias, como febre amarela e outras doenças infecto contagiosas.

Em 1903, o engenheiro José Pereira Rebouças foi nomeado diretor da Comissão de Saneamento, órgão estadual que iniciava um amplo trabalho em Santos. Até 1909, foram investidos na cidade, doze mil contos para a implantação do Saneamento Básico.

Saturnino de Brito, que mais tarde seria conhecido como “o patrono da engenharia sanitária brasileira”, implantou o programa que transformara a cidade num exemplo de saneamento para o resto do país. O plano de Saturnino foi projetado para atender de 30.000 a 150.000 pessoas e praticamente não sofreu mudanças ou acréscimos até 1969, quando a cidade já tinha aproximadamente 340 mil habitantes.

Santos é uma cidade que tem uma história especial, uma cidade que tem uma história de lutas pela Independência de nosso País, pela Abolição e pela República. Quando cito a Abolição e a República, a marca distintiva de nossa cidade está no fato de que esses movimentos envolveram o povo santista, se mobilizando ativamente e enfrentando todas as dificuldades, todas as resistência, para fazer valer esses ideais de democracia e liberdade.

Muito devemos nos orgulhar pela cidade de Santos, pois sua primeira Constituição, promulgada em 1894, que durou menos de um ano, por ser anulada pelo Congresso de São Paulo, era absolutamente renovadora. Essa Constituição proclamava a autonomia do Município, os direitos dos cidadãos e protegia sua liberdade, e ainda dava o direito de voto à mulher, nesta cidade.

Fiz esta pequena introdução para dar ênfase à história do nosso homenageado.

Para contarmos a história do Jabaquara, passaríamos a noite contando detalhes, mas como o tempo não é só meu, farei um discurso enfatizando os pontos principais da história do clube, assim:

Contar a história do Jabaquara Atlético Clube é também contar a história dos que o fizeram, independentemente da posição em que tenham jogado – fundadores, desportistas, dirigentes, árbitros, clubes, etc. Assim, contar a história do Jabaquara Atlético Clube, significa dizer que, para toda grande caminhada é sempre necessário o primeiro passo.

Como sabemos, o futebol é o esporte mais popular do planeta e, nossos jogadores são os mais cobiçados do mundo, por possuírem a técnica futebolística implantada em suas veias.

Tudo começou quando um grupo de tribuneiros espanhóis, hoje jornaleiros, reunia-se no bairro do Jabaquara, com o propósito de fundar uma agremiação para a prática de futebol, visando encontros periódicos com os membros da colônia. Esse grupo fora batizado inicialmente com o nome de um rei da Espanha, Afonso XIII.

Tempo depois, um senhor de cor, antigo escravo, sugeriu o nome Espanha. Então, a 15 de Novembro de 1914, nascia o Espanha Futebol Clube, com um grande número de associados portugueses que, na escolha das camisas, concordaram com as cores Vermelha e Amarela, da bandeira espanhola. Assim, quando um português sugeriu a cor verde e vermelha para a camisa do 2º quadro, não houve qualquer objeção.

No primeiro jogo, contra o remanescente Clube Afonso XIII, empatou de 1 x 1, no campo do bairro do Jabaquara, sendo muito comemorado com flores, discursos e até banda musical.

Em 1917, o Jabaquara enfrentava sua primeira crise financeira e, na tentativa de superar tal obstáculo, o presidente resolveu realizar um festival esportivo. Era o primeiro jogo oficial do Espanha contra um clube filiado, o São Paulo Railway (que goleara o Sport Clube Corinthians Paulista por 5 x 2). No Jabaquara, a valentia do presidente e diretores, levou o time ao desafio, na esperança de conservar o clube. A diretoria conseguiu o seu intento, angariar fundos necessários para a recuperação do Clube, além da vitória do Espanha por 2 x 1. Os espanhóis se entusiasmaram e começaram a entrar de sócio.

Mesmo com todas as dificuldades que o Jabaquara enfrentava na época, havia união entre jogadores e dirigentes, e acima de tudo amor à camisa.

O Jabaquara sagrou-se campeão em 1918, 1919 e 1920, sendo que, em 1919 ficou com posse da taça “A Leoneza” e, em 1920, ficou com a posse definitiva da “Taça Grande Café D’Oeste”.
 
Dentre a bagagem esportiva do Jabaquara, podemos destacar sua vitória de 4 X 0 contra o Santos Futebol Clube na Vila Belmiro, no dia 6 de novembro de 1931.

Em 1935 o Espanha terminou em 4º lugar, na Liga Paulista de Futebol, junto com a Associação Atlética Portuguesa. O Santos foi o campeão, seguido do Corinthians e Palmeiras.

A afinidade é um dos poucos sentimentos que resistem ao tempo e ao depois. A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil, dedicado e penetrante dos sentimentos. É o mais independente também. Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos, as distâncias, as impossibilidades. Quando há afinidade, qualquer reencontro retoma a relação, o diálogo, a conversa e o afeto no exato ponto em que foi interrompido.

Assim, a necessidade de um estádio maior levou à construção e inauguração do estádio Antonio Alonso, no Macuco, em terreno cedido pelo proprietário Alonso Soares. Foi nesse campo que o Jabaquara recebeu a alcunha de “Leão do Macuco”, graças à garra com que seus jogadores defendiam a camisa do time.

Em 1939, o proprietário vendeu a área, doando uma parte em dinheiro, com a qual o clube comprou um terreno na Ponta da Praia, à Avenida Bartolomeu de Gusmão esquina da Avenida Coronel Joaquim Montenegro. Com esse gesto, o doador provou que a boa vontade orienta nossa inteligência no momento da escolha de uma ação.

Nesse mesmo ano, na comemoração do 25º aniversário, fora lançada a pedra fundamental do estádio que pretendia erguer. No início da década de 40 construiu ali um campo de futebol para treinos, realizando os jogos oficiais em Ulrico Mursa, da Associação Atlética Portuguesa. Passando por dificuldades financeiras, o clube precisou vender o campo em fins da década de 40.

Em 23 de junho de 1940, após a inauguração do Pacaembu, em campeonato oficial, o primeiro gol no campo, foi marcado por Fillipin, do Espanha Futebol Clube, que jogava contra o São Paulo Futebol Clube.

Em 1941 foi o 5º colocado na Federação na Federação Paulista de Futebol.

Durante a segunda guerra o governo brasileiro instituiu uma lei que proibia a utilização de nomes de países para a denominação de clubes. Em 07 de novembro de 1942, o Espanha passou a se chamar Jabaquara Atlético Clube, sugestão de Raul Vasques Rios, em homenagem ao bairro onde fora fundado o clube.

Em 1945 foi o 5º colocado na Federação Paulista de Futebol, tendo vencido o Santos por 6 X 2, durante o campeonato.

Na década de 50 a famosa “jabaquarada” fez com que o “Leão do Macuco” não disputasse os campeonatos de 1953, 1954 e 1956. “Jabaquarada” é uma expressão que ficou conhecida em 1952, pela verdadeira batalha judicial empreendida pelo advogado Antonio Ezequiel Feliciano da Silva, contra os órgãos reguladores de atividades esportivas, na defesa do Jabaquara, quando do seu rebaixamento para divisão inferior.

O futebol é uma grande glória, um espetáculo à parte, um traço cultural muito forte, encarnado no povo e como tal, deve ser preservado e perpetuado. Foi num treino com o Jabaquara que, Luiz Antonio Peres, Lula, avaliou a maior estrela de futebol, reconhecida mundialmente. Vejamos: numa tarde de novembro de 1956, o técnico do Santos Futebol Clube, Lula, pediu para que o Pelé vestisse a camisa de treino do Jabaquara para ser avaliado em campo.

No ano de 1957, o Jabaquara ganhou lugar de destaque na página de esportes do jornal da cidade “A Tribuna”, por ter vencido o time do Santos por 6 X 4, na Vila Belmiro.

Em 1961 o então presidente Washington de Giovanni iniciava a compra de um terreno no bairro da Caneleira. Em 15 de novembro do mesmo ano, foi lançada a pedra fundamental para a construção do estádio do Jabaquara Atlético Clube, seguida de um coquetel e churrascada, tudo abrilhantado com a Banda do 6º Batalhão de Caçadores da Força Pública.

Em março de 1964 realizou a primeira excursão por gramados internacionais, na Argentina.

Em 12 de janeiro de 1964, o presidente Rubens Cid Perez concretizava a transação da área de 67.380 metros quadrados, onde hoje se localiza o estádio do Jabaquara.

Nesse mesmo ano, confirmando o slogan da época de “clube mais simpático da cidade”, o Jabaquara comemorou seu Jubileu de Ouro, com uma grande festa, onde foi tocado pela primeira vez o Hino dedicado ao Jabaquara Atlético Clube, pela Banda da Polícia Militar, uma composição da associada, Alicia Centurian Gonzalez. 

O futebol sempre esteve ligado à arte. Vários artistas de todos os lugares desse mundaréu afora já declararam sua paixão pelo esporte em formas e linguagens das mais variadas. Pelo Jabaquara podemos destacar o eufórico torcedor dramaturgo Plínio Marcos que, numa demonstração do seu amor ao Clube, só aceitou a homenagem de Cidadão Emérito de Santos, quando teve a certeza da presença dos dirigentes do Jabaquara e atletas mirins uniformizados.

Em 2002, o Jabaquara sagrou-se campeão paulista da série B3 da Federação Paulista de futebol.

Infelizmente o futebol virou produto de consumo globalizado, onde é visto como espetáculo em todo o mundo e, como não somos diferentes nas paixões e principalmente no futebol, dia 22 de maio ocorreu a última vitória do Jabaquara em cima do Osasco por 1 X 0, no Campo da Caneleira, onde nos posicionamos na segunda posição na tabela da 2ª divisão.

Se no futebol profissional existe a rivalidade dentro e fora do campo, com as torcidas provocando quebra-quebra e até mesmo assassinato, isso não ocorre no Jabaquara. Aqui, dirigentes, técnicos, jogadores, torcedores, todos se unem como uma só família, sempre comemorando com alegria todos os momentos do Clube. Portanto, no Jabaquara, o futebol, a amizade e a dignidade fazem parte da sua filosofia.

Neste momento, agradeço a Deus por me haver concedido o privilégio de prestar esta homenagem. Pois os noventa anos são prova de que toda a existência do clube é devida à inteligência e disciplina com que o Jabaquara sempre foi dirigido.

Esperamos que esta comemoração dos noventa anos de existência dessa extraordinária e gloriosa agremiação, nesta noite seja o reencontro de todos aqueles que fizeram especial o animal mais respeitado da selva: o “Leão” do Macuco.

O grito de guerra do Jabaquara Atlético Clube, fora trazido de suas raízes, a colônia espanhola: ”Arriba Jabuca”.

Finalizando, vamos destacar a última estrofe do hino do Jabaquara Atlético Clube: “... Por tuas glórias, com emoção. Hoje brindamos, com amor, esta canção! Rubro-amarelo, sempre estarás: em nossa alma, em nosso coração, Leão do Macuco, vamos lutar, que em nossa história serás sempre o Campeão!”.