Câmara entrega Medalha a Eraldo Franzese

Homenagem aconteceu na Sala Princesa Isabel.

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“Maior que a tristeza de não ter vencido é a vergonha de não ter lutado”. Assim o advogado Eraldo Franzese encerrou seu discurso, durante homenagem de entrega de Medalha de Honra ao Mérito Braz Cubas, em propositura do vereador Benedito Furtado (PSB).

Na platéia, também estavam representantes da área sindical, que após a outorga da medalha renderam homenagem ao advogado. “Sua atuação na área sindical continua brilhante, como atestam os depoimentos de lideranças do Sindaport, do Sintraport,do Sindogeesp e de muitos outros”, reiterou o vereador Furtado.

A sessão solene foi presidida pelo vereador Marcus de Rosis (PFL) e contou com a participação da orquestra Baccareli. O prefeito João Paulo Tavares Papa foi representado pelo secretário municipal de Ação Comunitária e Cidadania, Carlos Teixeira Filho.


Leia o discurso do vereador Benedito Furtado na íntegra:

DISCURSO PROFERIDO PELO VEREADOR BENEDITO FURTADO POR OCASIÃO DA ENTREGA DA MEDALHA DE HONRA AO MÉRITO “BRÁS CUBAS”  AO ADVOGADO ERALDO AURÉLIO RODRIGUES FRANZESE, EM 06/04/2005

Na província de Cosenza, região da Calábria, na Itália, existe uma pequena cidade, quase um vilarejo, com menos de seis mil habitantes. Casas brancas, espremidas entre a montanha e o mar Tirreno. Essa localidade chama-se San Lucido e, segundo os historiadores, foi, inicialmente, uma colônia pesqueira grega e mais tarde um posto avançado do império romano.

É um lugar pequeno, quieto, onde todos se conhecem e têm, como traço mais forte de personalidade, a vontade férrea de vencer, de superar obstáculos e domar as adversidades. Como aconteceu em 700 d.C. Desesperados, mas prontos para a luta, os moradores do vilarejo invocaram a ajuda divina de San Giovanni Batista para derrotar uma esquadra sarracena e abortar a iminente invasão. O sol refletiu no mar em uma luz fortíssima, que cegou os invasores e os colocou em debandada. Nasceu daí o nome da cidade, Lucido, de luzir, refletir. Diz-se mesmo que seus filhos mais ilustres nascem com essa luz e a missão de espalhá-la pelo mundo.

Em 1880, um de seus filhos, Nicola, emigrou para o Brasil em um barco à vela. Trabalhou duro, juntou as economias e voltou a San Lucido. Para os padrões da época e do pequeno vilarejo, voltou rico. Comprou terras, deu melhores condições para a família e, sem querer, indicou o caminho a ser seguido por seus descendentes nos anos seguintes.

Em 1908, foi a vez de seu filho, Vicente, procurar a nova terra, sobre a qual se falava maravilhas. Em 1910, Ernesto também seguiu o mesmo caminho e, em 1926, foi a vez de Salvatore. Em comum, todos tinham a origem, a pequena San Lucido, e um sobrenome respeitado e, para nós, hoje, muito conhecido: Franzese. Os demais membros da família desembarcariam no Brasil em 1932, a bordo do vapor Princesa Maria, e entre eles o menino Eraldo, pai do nosso homenageado.

Tendo nos genes a determinação e a teimosia do calabrês, venceu o aprendizado da língua e a adaptação à nova terra e, em pouco tempo, tornava-se aprendiz de alfaiate. Sua primeira tarefa, vejam só, foi soprar as brasas do ferro de passar. Tinham ficado para trás as montanhas de Cosenza, as festas da vindima e do vinho feito pelo amassar das uvas com os pés. Mas nem tudo era saudade, porque, a exemplo de San Lucido, aqui também havia o rumor do mar que embalara os primeiros anos de sua infância.

Já com a nacionalidade brasileira, a trajetória desse italiano foi rápida e firme como o seu caráter: formou-se em Ciências Econômicas e Direito, foi dirigente estudantil, presidente de Centros Acadêmicos e vice-presidente da União dos Estudantes do Estado. Em 1964 o regime autoritário encontrou no jovem advogado um adversário ferrenho: defendeu sindicatos e trabalhadores ameaçados pelas leis de exceção, atuando com invulgar coragem nas auditorias militares.

Foi Secretário de Assuntos Jurídicos da Prefeitura de Santos, que acumulou com outras pastas e, graças à sua atuação, acabou eleito secretário do ano, e homem público do ano. Recebeu, por serviços prestados, vários troféus, placas, enfim um sem número de homenagens que culminaram com a presidência da Fundação Lusíada e a escolha, pelo Consulado de Portugal, para representar os imigrantes em um congresso em terras lusitanas.

Da aventureira viagem ao Brasil, passando pelas dificuldades naturais de adaptação à terra e à língua e pelos primeiros empregos, modestos, mas honestos, a vida desse filho de San Lucido, Eraldo Franzese, foi um suceder de colheitas boas — que não ocorreram por sorte ou por capricho do destino, mas inteiramente por merecimento. Até sua morte, em maio de 1998, Eraldo Franzese foi um daqueles homens que nos orgulhamos de ter como amigos e cuja convivência nos honra e engrandece, pelo muito que aprendemos no dia-a-dia de sua iluminada existência — uma existência justa, calcada na solidariedade e na fraternidade.

Mas, por que estamos falando de Eraldo Franzese, o pai do nosso homenageado na noite de hoje?

Porque, simplesmente, não há como falar de Eraldo Aurélio Rodrigues Franzese sem nos reportarmos à figura de seu pai, de quem é a continuidade, tanto na conduta pessoal quanto na excelência profissional.

Eraldo, filho, certamente carrega os genes da gente de San Lucido, a calma no tratar, a coragem, a perseverança e a determinação de tudo fazer bem feito — e uma réstia forte da luz que deu nome à terra de seus antepassados.
Eraldo Aurélio Rodrigues Franzese está aqui entre nós esta noite para ser homenageado por algo a que deu continuidade no trabalho de seu pai: a prestação de serviços à comunidade. Sim, porque, mais do que um profissional, ele tem sido e certamente continuará sendo, acima de tudo, um servidor desta cidade.

Ele iniciou sua carreira na advocacia na década de 70, seguindo as pegadas de seu pai, no mesmo escritório e no mesmo afã de fazer prevalecer o princípio do Direito e da Justiça, sobretudo no sindicalismo portuário.

Mais adiante, vieram os tempos das assembléias quentes e agitadas na Rua General Câmara com a Praça Tereza Cristina e na Rua Júlio Conceição, nas quais pontificavam Eraldo, pai, Marcos Aurélio da Costa Milani e Wilson de Oliveira, recentemente homenageado nesta Casa. Eraldo, filho, participava e já dava palpites, alicerçados na lei, mas envoltos na paixão característica que forma os Franzese.

Na primeira grande greve portuária de 1980, os Franzese, Milani e Wilson de Oliveira marcaram de forma indelével um lugar na história de Santos, ombreando-se com os sindicalistas e os portuários no enfrentamento do regime militar. Sem medo, sem hesitação, desafiaram o autoritarismo e fizeram sentir que a exceção não podia vencer.

Moldado nesse ambiente, Eraldo, filho, o nosso homenageado, não tinha outro caminho, que não o de se especializar nas áreas de direito coletivo e sindical do trabalho e enveredar pelo caminho do sucesso profissional — um sucesso que lhe deu notoriedade e abriu espaços na área da Administração Pública, como assessor jurídico da Câmara de Itanhaém, por vários anos, e o colocou ao lado de seu pai, na Fundação Lusíada de Santos, onde foi secretário, diretor jurídico, vice-presidente e, finalmente, presidente. Foi por suas mãos que se ampliaram os serviços e a participação social dessa importante entidade.

A partir de 2000, ampliou as instalações físicas do escritório iniciado por Eraldo, pai, consolidando uma equipe que hoje reúne 11 profissionais e é considerada referência de qualidade na prestação de serviços advocatícios.

Sua atuação na área sindical continua brilhante, como atestam os depoimentos de lideranças do Sindaport, do Sintraport,do Sindogeesp e de muitos outros. Não há dirigente que não teça comentários elogiosos a Eraldo Aurélio Rodrigues Franzese — e, isso, Senhoras e Senhores, não apenas no campo profissional, mas igualmente, com idêntica ou maior ênfase, no aspecto pessoal. Eraldinho, como carinhosamente o chamam, é um homem de trato fácil, que mantém intacta a simplicidade dos antepassados calabreses, mas, a exemplo daqueles, tempera a calma com explosões de paixão, quando o momento, o assunto e a justiça assim o exigem.

Seu currículo é um desfiar de bons serviços, prestados à Fundação Lusíada, ao Santos F. C, a vários bancos, e aos principais Sindicatos de nossa cidade, como o Sindaport, Sintraport, Sindogeesp, Práticos de Farmácia e Empregados no Comércio de Medicamentos – Sinprafarma e Trabalhadores em Transporte Rodoviário.

Eraldo Aurélio Rodrigues Franzese foi, sem dúvida, tocado pela luz de San Lucido, ainda que não tenha nascido lá. Recebeu-a pela generosidade de Deus e pela benção de seu pai. Assim como ele está deixando seu nome perenemente impresso nas páginas da história de Santos, dando seqüência, de forma honrosa, à saga daqueles Franzese que um dia resolveram se aventurar pelo mar e fincar raízes na terra estranha.

Se este homem, este advogado, filho devotado, pai de família, amigo dos amigos, ser humano na acepção da palavra, não representar, para todos nós, exemplo de relevantes serviços prestados à comunidade, ninguém mais representará. Ele reúne em sua vida, ainda curta, embora já bastante profícua, todas as condições para almejar este galardão que a Câmara de Santos concede aos ilustres filhos desta terra, aos cidadãos que contribuem de forma decisiva para o engrandecimento de Santos.

Eraldo Aurélio Rodrigues Franzese assim tem feito e por isso merece, como poucos, a Medalha de Honra ao Mérito “Brás Cubas” que nesta oportunidade lhe será entregue. Que ela não sirva como passaporte para o conformismo e a aposentadoria, meu caro Eraldinho, mas, além da demonstração do nosso mais sincero e profundo reconhecimento, também como incentivo para que você prossiga — se isto for possível — doando incondicionalmente seu amor por esta cidade, tornando-a melhor, mais justa e mais humana.

O Título de Cidadão Emérito você já recebeu — e com absoluta justiça, diga-se de passagem. Reconheceu-se, naquela oportunidade, como assinala o Dicionário Aurélio, sua condição de insigne desta terra, um cidadão reconhecidamente versado em uma ciência ou arte, enfim um sábio — aquilo, aliás, que todos os seus amigos mais próximos já sabiam há muito tempo.

Agora, meu caro Eraldo, junte a esse Título, a Medalha com que esta Câmara homenageia o seu trabalho e os serviços prestados à comunidade desta região. Ficarão juntos para a posteridade como demonstração de sua importância para Santos e como exemplo para as futuras gerações. Ficarão, principalmente, como recordação imorredoura para sua esposa, Roseane de Carvalho Franzese, advogada de sucesso como ele, companheira sempre presente no dia-a-dia da vida e das lides jurídicas, hoje presidente do 14º Tribunal de Ética da OAB-SP, e para sua filha, Débora de Carvalho Franzese, também advogada, integrante de seu escritório, hoje continuação da história iniciada à beira do mar Tirreno.

Que Deus o abençoe, Dr. Eraldo.

É a Ele, Deus, que agradeço pela oportunidade de tornar público e oficial o reconhecimento dos santistas pelo seu trabalho.

Receba nossa reverência e nossos aplausos mais calorosos.

Muito obrigado

BENEDITO FURTADO
Vereador –PSB