10/12/04 - Saudação proferida por Clotilde Paul

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Pronunciamento de Clotilde Paul na Sessão Solene em homenagem ao Dia da Soroptimista de Santos

Todos nascemos livres e somos iguais em dignidade e direitos
Todos temos direitos à vida, à liberdade e à segurança pessoal e social

Todos temos direito ao trabalho digno e bem remunerado
Todos temos direitos ao descanso, ao lazer e às férias
Todos temos direito à saúde e à assistência médica e hospitalar
Todos temos direito à escola, à arte e à cultura
Todos temos direito ao amparo social na infância e na velhice
Todos temos direito de eleger e ser eleito às funções do governo
Todos temos direito à informação verdadeira e correta
Todos temos direito de ir e vir, de mudar de cidade, de estado ou de país
Todos temos o direito de não sofrer nenhum tipo de discriminação
Ninguém pode ser torturado ou linchado
Todos somos iguais perante a lei
Ninguém pode ser arbitrariamente preso ou privado do direito de defesa
Toda pessoa é inocente até que a justiça, baseada na lei, prove o contrário
Todos temos liberdade de pensar, de nos reunir e de crer
Todos temos direito ao amor e aos frutos do amor

Eis, em síntese, a Declaração dos Direitos Humanos, à qual acrescentamos: Todos temos o dever de lutar pela conquista e ampliação destes direitos.
Quando o homem se fez homem, isto é, teve consciência de ser, não mais pôde ser contido no impulso de comunicar-se,de transmitir os seus pensamentos. Na flecha da evolução, na busca que é a de todos os momentos, de seu aperfeiçoamento, no anseio de encontrar o ponto \'ômega\', o homem, mal saído do neolítico, procurou projetar-se no futuro, construindo, pouco e pouco, nas comunidades em que vivia, princípios e normas permissivas do alongar de seu pensamento, de sorte a que todos respeitando-se mutuamente possam, realmente ser considerados iguais.
A luta pelo reconhecimento desses direitos é uma constante na história da humanidade pois, se de um lado é certo que a opressão dos mais fracos elos mais fortes vem sendo a característica de todos os regimes políticos, desde quando primitivos, se impunham no interior das cavernas, até os dias que hoje correm, mais sofisticados e por isso mesmo, mais opressores.
 Desde que o homem passou a viver em sociedade, a sede de poder tomou conta dos mais ambiciosos e no transcorrer do tempo, a acumulação de bens materiais foi a mola propulsora da dominação de muitos por minorias, algumas vezes carismáticas.
 Naturalmente, no decorrer dos séculos, o homem comum, sobre o qual recai todo o peso da opressão, tem procurado sacudir esse jugo, mas se conseguiu algumas vitórias, ainda não passa de um mero joguete nas mãos de seus líderes, os quais, chegados ao ápice do triângulo, não se pejam em voltar-se contra compromissos antes assumidos, transformando-se, por sua vez, em novos instrumentos de opressão.
Por isso mesmo, inúmeras fórmulas foram imaginadas para preservar o homem em sua dignidade, impedindo ou arrefecendo os excessos do Poder.
Daí a imposição pelas revoluções populares de princípios a serem inscritos nas cartas políticas dos povos, hábeis a definir os excessos, para marcando-os com o estigma da ilegalidade, impedir sua reprodução.
 São chamadas cartas ou declarações dos direitos do homem.
 Mas a verdade é que os princípios inscritos nessas cartas, revelassem embora os nobres ideais da raça humana, nunca chegaram a sensibilizar os detentores do Poder para que se dedicassem, uma vez por todas, pela implantação de governos, os quais, preservando a liberdade dos homens, permitissem a participação de todos nas benesses do progresso e da tecnologia. Por incrível que pareça, nunca o homem foi tão livre e, paradoxalmente, tão escravo.
 O século XVIII assistiu ao fim de um ciclo político marcado pelo absolutismo dos governantes, ficando assinalada a terminação de tal ciclo pelo reconhecimento formal e solene de que \'todos os homens nascem iguais em direitos\', necessitando da liberdade para exercê-los.
 Com essas afirmações, pretendia-se que fosse reconhecida a existência de limites para interferência dos governantes na vida dos governados, sustentando-se que os próprios indivíduos, \'donos dos direitos\', é que deveriam decidir sobre como e quando exercê-los. Mas os próprios teóricos do século XVIII reconheceram que os documentos chamados \'Declarações de Direitos\' eram insuficientes para garantir o respeito aos direitos fundamentais e para conter os impulsos arbitrários dos detentores do poder.
A prática demonstraria, muito cedo, que a igualdade de direitos, mesmo afirmada e garantida pela Constituição, não passava de uma afirmação teórica, pois os indivíduos economicamente fracos não tinham como sustentar seus direitos e eram obrigados a cede-los para que pudessem sobreviver. Por esse motivo, a maioria dos indivíduos ficou sem liberdade, uma vez que, na fixação das regras de convivência, através das legislações, bem como no estabelecimento das condições de trabalho, em cada contratação prevalecia sempre a vontade do economicamente forte, geralmente impulsionado pelo mais absoluto egoísmo. É durante o século XIX e início do século XX que se dá extraordinário avanço da Revolução Industrial. Cresceram em tamanho e quantidade os grandes aglomerados urbano, com suas formidáveis demonstrações de poderio econômico, em estreita convivência com as mais dramáticas e degradantes concentrações de miséria.
Esses desequilíbrios sociais estiveram na base de duas grandes guerras que sacudiram o mundo na primeira metade do século XX, deixando evidente que ninguém, nem ricos nem pobres, teria paz e gozaria de liberdade enquanto perdurassem as estruturas sociais injustas.
Em vista disso, apesar da insensibilidade e das resistências de muitos poderosos, homens de boa vontade começaram a trabalhar pela redefinição das condições de vida social. Com esse objetivo foi publicada, sob patrocínio da Organização das Nações Unidas, nova Declaração Universal dos Direitos do Homem, não só para atualizar a enumeração dos direitos, em face das características da sociedade industrial, mas sobretudo para proclamar que é dever de todos, Estados e indivíduos, governantes e governados, trabalhar permanentemente para que todos os homens possam usufruir de uma vida digna.
Com a assinatura da Carta das Nações Unidas, em São Francisco, em 26 de junho de 1945, a comunidade internacional nela organizada se comprometeu, desde então, a implementar o  propósito de \'promover e encorajar o respeito aos direitos humanos e liberdades fundamentais de todos, sem distinção de raça, sexo, língua ou religião\'. Para esse fim, a Comissão dis Direitos Humanos, princiapl órgão das Nações Unidas sobre a matéria, recebeu a incumbência de elaborar uma Carta Internacional de Direitos. O primeiro passo nesse sntido foi a preparação de uma Declaração.
Proclamada pela Assembléia Geral, em 10 de dezembro de 1948, em Paris, a Declaração Universal dos Direitos Humanos definiu, pela primeira vez em nível internacional;, como um padrão comum de realização para todos os povos e nações, os direitos humanos e liberdades fundamentais - noções até então difusas, tratadas apenas de maneira não-uniforme, em declarações e legislações nacionais.
Hoje, 10 de dezembro, celebramos os Direitos Humanos e hoje também celebramos o Soroptimismo Internacional.
Parabéns ao vereador José Lascane que iniu essa dupla comemoração, pois se os direitos humanos visam, melhores condições de vida para os homens de todo o mundo, o soroptimismo volta-se especificamente para a mulher e a menina.
Executivas , atuantes em negócios e profissionais liberais, 95 mil mulheres, em 120 países e mais especificamente em 15 países das Américas uniram-se pelo ideal de servir.
E o que fazem essas mulheres que além de mãe e esposas são atuantes cidadãs?
Projetos, semiprojetos que não ficam apenas em projetos, mas em projetos que se concretizam.
O Prêmio Violet Richardson em honra à primeira presidente do Clube Soroptimista que reconhece e honra adolescentes que prestam serviços voluntários na comunidade ou na escola em que estudam.
O Prêmio Oportunidade para mulheres que ajudam mulheres que desejam melhorar ou ingressar no mercado de trabalho visando melhores condições financeiras; o Prêmio Fazendo uma Diferença que reconhece mulheres que estão modificando de forma extraordinária a vida de outras mulheres, auxílio financeiro para atender mulheres que viviam em áreas afetadas por catástrofes naturais ou atos de guerra, tal qual aconteceu na Bósnia e no Afeganistão, por exemplo.
Campanhas contra a violência doméstica, o Fórum Juvenil que abre espaço para o debate de adolescentes entre 10 e 17 anos, estudantes na Escola Pública; reconhecimento ao talento artístico e esportivo, além de premiar a dedicação e o serviço da soroptimista ao seu clube e a mulher que se destaca em sua área profissional - o Prêmio Bertha Lutz.
 Mas não para por aí a atuação dessas mulheres maravilhas porque elas estão presentes onde e quando se faz necessária a participação da cidadã consciente e responsável.
Bom seria se todas as mulheres fossem soroptimistas, porque tenho a certeza de que o mundo seria mais fraterno e justo porque todas perceberiam que o mais importante é sempre o nós e nunca o eu.
E quando isso for concretizado, os homens do universo, dando-se as mãos, poderão dizer: Glória a Deus nas alturas, porque na Terra estamos todos em Paz.

                                                                               Clotilde Paul
                                                                       Em 10 de dezembro de 2004