Centenário do Colégio Coração de Maria é festejado na Câmara

Primeira escola feminina de Santos, promotora de iniciativas que levaram o nome da Cidade a todos os pontos do País, o Colégio Coração de Maria teve seu centenário de fundação homenageado pela Câmara, que na noite de 7 de dezembro, em Sessão Solene realizada na Sala Princesa Isabel, outorgou-lhe Placa, como forma de celebrar a data. A comemoração foi iniciativa do vereador Augusto Zago (PSDB) e a solenidade, que contou com a presença do bispo diocesano D. Jacyr Francisco Braido, entre outras autoridades, foi presidida por Adelino Rodrigues (PSB).

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          Para Zago, a homenagem não se limitava ao centenário, mas também pelo fato de a escola “semear o bem, os preceitos cristãos e por fazer da educação um apostolado de fé”. Ele lembrou os primórdios da unidade, hoje com 460 alunos nos três níveis de ensino, e destacou que as escolas da Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria estão presentes em seis países, trabalho que envolve 930 religiosas e 2.200 educadores. “Desde o início de suas atividades a congregação voltou-se para os excluídos, desenvolvendo importante trabalho junto à sociedade”.
   
    
   O Colégio Coração de Maria, prosseguiu o vereador, representa um orgulho para Santos, pois formou gerações de mulheres, moldando-lhes o caráter, inserindo pioneiramente a população feminina no mercado de trabalho ao oferecer cursos como secretariado, em 1930, e sobretudo por dar  origem a uma sucessão de famílias cristãs. Zago ainda destacou a banda marcial do colégio, que tantos prêmios conquistou, inclusive de caráter nacional, tradição que continua com seus atuais 35 componentes, sob a regência do maestro Antonio Homem de Bittencourt.

         Agradecendo a acolhida do povo santista, que depositou confiança nas irmãs da congregação, irmã Maria Josefa Soares destacou a trajetória da instituição de ensino, sempre inspirada nos princípios de sua fundadora, Bárbara Maix, de oferecer uma educação fundamentada no direito e na justiça. “Esta instituição escolar foi e continua sendo de relevância para esta comunidade, por estar atenta à realidade social, política, cultural e religiosa de cada época, fazendo da pessoa o centro do processo educativo, despertando valores e primando por uma educação de qualidade”.

         Para D. Jacyr Braido, o Coração de Maria está intimamente ligado a sua vida religiosa, pois foi nesse colégio que tomou posse como bispo adjuntor. Para ele, a unidade de ensino reúne o que considera mais importante na educação, pois evoca a fraternidade e tem o sentido da vida. “A escola cultiva valores, sobretudo os morais, para que cada um possa construir seus caminhos na vida”, frisou, acrescentando que a Campanha da Fraternidade 2005 será, pela primeira vez, ecumênica, tendo como lema Solidariedade e Paz. “A educação para a paz é uma de nossas grandes metas, estimulando uma cultura que eleve também o espírito, reduza a competitividade e ensine a resolução não-violenta dos conflitos”.

         Os corais Maturessência, sob a regência de Sandra Moço, e Reencontro, do Colégio Coração de Maria, regido por Germana Paiva Coelho e Maria Vitória Rebouças, responsabilizaram-se pela parte musical. A solenidade foi encerrada com a interpretação, pelo Coral Reencontro, do Hino do Colégio Coração de Maria.

Pronunciamento do vereador Dr. Augusto Zago

Exmo. Sr. Presidente da Câmara Municipal de Santos, Vereador Odair Gonzalez;Reverendíssimo Bispo Diocesano, D. Jacyr Francisco Braido; Irmã Maria Josefa Soares, DD. Diretora do Colégio Coração de Maria; Excelentíssimas autoridades presentes,

Minhas Senhoras e Meus Senhores:

“Dizei muitas vezes: Meu Jesus, aqui estou.
Fazei de mim o que vos aprouver!
Outra coisa eu não quero
a não ser cumprir a Vossa Santíssima Vontade”.

Estas palavras, pronunciadas por Bárbara Maix, em 3 de abril de 1860, dão a exata dimensão do princípio de abnegação e fé que construíram — e constroem diariamente — as ações da Congregação das Irmãs Imaculadas do Coração de Maria. Essa Congregação, fundada em 1849, em Viena, na Áustria, é a cellula mater, a geratriz de uma imensa obra religiosa e social espalhada pelo mundo — uma obra da qual o Colégio Coração de Maria, que homenageamos esta noite com imensa alegria, é um significativo e importante exemplo.

Não é possível falar do Colégio Coração de Maria, nem dos 100 anos de sua profícua existência, sem antes falar da Congregação que a originou e, sobretudo, da extraordinária figura que há 161 anos decidiu reunir jovens que sofriam os horrores da guerra que assolava a Áustria para criar uma organização religiosa destinada a atender empregadas domésticas, mães solteiras, enfim mulheres que precisavam de assistência e orientação, impedindo-as de se prostituírem e ampliarem as desigualdades sociais que campeavam no séc. XIX.

Sua vocação já havia sido despertada na infância, ao ver o sofrimento do povo vienense, em contraste com a nobreza, a quem seu pai servia como empregado. A fome, as doenças, a falta de oportunidades, enfim, a miséria que a cercava, ao invés de abatê-la fortaleceram-lhe o espírito, reforçaram-lhe a fé e cristalizaram a determinação de que deveria agir em favor dos necessitados. Veio desse momento de iluminação uma de suas máximas de conduta para o trabalho da Congregação: Vida e Cidadania para todos.

Quis o destino e mais do que isso a mão de Deus, que, expulsa do país e planejando seguir para a América do Norte, viesse ter no Brasil, com 21 companheiras. Não conheciam a terra, mas tinham a movê-las o espírito dos Apóstolos. Uma de suas companheiras de viagem escreveu no dia 9 de novembro de 1848:

“Chegamos ao Rio de Janeiro, em novembro, sem dinheiro, sem conhecimento de ninguém, sem saber a língua, com muita fome, mas cheias de confiança em Deus e em Nossa Senhora”.

Trata-se, Senhoras e Senhores, de um inquestionável exemplo de fé.

E foi a fé e a opção pelos humildes que a fez perceber a enorme carência de acesso ao saber e abrir locais de estudo para órfãs e pobres, assumir asilos e pensionatos, a tratar dos doentes de cólera e febre amarela e a cuidar dos feridos da Guerra do Paraguai.
A Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria tomou vida no dia 8 de maio de 1849, na cidade do Rio de Janeiro.

Teimosa, no melhor e mais positivo sentido dessa palavra, Bárbara Maix foi, além de tudo, uma inovadora. Numa época em que a maioria das Ordens Religiosas tinha estilo puramente contemplativo, a Congregação foi direcionada para o trabalho leigo e social. É, por isso mesmo, a primeira dessas entidades, de cunho feminino, a ter vida ativa no Brasil.
Seu projeto congregacional enfrenta as regras da época e ela mesma coloca-se à frente da defesa de seus princípios.
Diz ela em certa ocasião:
“Não creio que haja autoridade na terra que me possa obrigar a fazer coisa alguma contra minha consciência. Não somos escravas. Somos livres pela misericórdia de Deus”.
Mais uma demonstração da fé inabalável que as movia.

Bárbara Maix faleceu no dia 17 de março de 1873. Seguiu para o Pai, mas deixou aqui a obra de sua vida, que atravessou o século 20 e adentrou ao século 21 como exemplo de trabalho espiritual, social e religioso em favor dos mais carentes.

A Congregação das Irmãs do Imaculado Coração de Maria, com sede em Porto Alegre, Rio Grande do Sul, atua na maioria dos Estados do Brasil e em seis países, em escolas, obras sociais, hospitais, casas de formação, movimentos populares, paróquias, pensionatos e regiões missionárias. Seu foco principal continua sendo os excluídos. Congrega cerca de 930 Irmãs e perto de 2.200 educadores e funcionários leigos, todos voltados para o princípio de comportamento da fundadora: “Mostremos com nosso exemplo aquilo que com palavras ensinamos”.

O Colégio Coração de Maria é um dos frutos mais bonitos dessa maravilhosa e edificante história.

Fundado em 1º de setembro de 1904 pela Madre Maria Ignez Negrini, é orgulho de Santos e da Congregação pela irretocável trajetória de ensino. Não foram poucas as gerações de mulheres santistas que ali aprenderam as letras e os princípios morais que formam o caráter e preparam a jovem para a vida adulta — sobretudo para a constituição de uma família cristã nos moldes daquelas que dão força e consistência a um país.
Foi a forja, principalmente, de centenas de educadoras, formadas no Magistério — criado em 1944 e infelizmente encerrado em 1999 — que disseminaram por outras escolas e por outros alunos os ensinamentos de Bárbara Maix e da Congregação.

Foi, também, o ponto de partida para o ingresso da mulher no comércio em condições mais favoráveis, com a implantação dos cursos Comercial e de Secretariado, nos idos de 1933 e 1942.

Inicialmente apenas destinado a meninas, de 1929 a 1935 chegou a ser misto, retornando, nesse ano, à condição original. Somente em 1981 o Colégio voltaria a aceitar também alunos, o que foi altamente benéfico, pois ampliou o seu grau de influência positiva sobre as mentes jovens. Hoje conta com cerca de 460 alunos, divididos nos três níveis de ensino: Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.

Durante 60 anos esteve localizado na Rua da Constituição, na Vila Nova, onde virou referência como estabelecimento de ensino que primava pela solidariedade aos menos favorecidos. Basta citar a campanha de combate ao câncer, realizada em 1947, na qual se sagrou campeão na arrecadação de donativos em dinheiro.
 É o mesmo sentimento que pode se verificar hoje nas instalações da Rua Senador César Lacerda de Vergueiro, na Ponta da Praia, onde pode ser encontrado, em cada canto, em cada corredor e em cada sala, o espírito que norteou sua fundação e está presente em cada obra da Congregação.
Há muitos feitos e eventos do Colégio que já entraram para a história da cidade:

Podemos citar, como destaque sua já famosa e sempre elogiada Banda Marcial, iniciada na década de 50 com o objetivo de representar o Colégio nos desfiles cívicos e que se notabilizou pela utilização de gaitas de fole escocesas.  Nas décadas de 60 e 70 participou de competições, aqui, na Capital e no Interior. Em 1972 venceu, em âmbito nacional, concurso realizado pela Rádio e TV Record e há muitos anos conquista o 1º lugar em sua categoria no concurso do jornal A Tribuna. Tem hoje 35 componentes e é dirigida pelo maestro Antonio Homem de Bittencourt.

Não podemos esquecer, ainda, os dois Corais que dão alma ao Colégio: o Em Canto, formado por atuais alunos; e o Reencontro, formado por ex-alunas, que descobriram nessa atividade uma forma de manterem o vínculo que as unia e que as ligava ao Coração de Maria. Uma demonstração que ali está mais do que um Colégio, uma verdadeira família.

O Centenário de um Colégio de inspiração católica, o primeiro feminino em Santos, é bom frisar, não é data que possa passar desapercebida — muito menos ao Poder Público, que tem a obrigação de ressaltar as boas obras de seus cidadãos, tanto quanto expor a julgamento os que não procedem bem.

O Colégio Coração de Maria recebe esta homenagem da Câmara Municipal de Santos não apenas porque completou 100 anos de existência, mas porque atingiu esse tempo de vida semeando o bem, a moral cristã e sãos princípios. Porque formou cidadãos e cidadãs melhores para o país; porque fez da educação um apostolado de fé e determinação.

Seguiu, em cada instante, os primados de sua guia, Bárbara Maix, e realizou, na prática, o que pregou Santo Agostinho.
Dizia esse incomparável filósofo e teólogo:
“Amai-vos, pois, e querei-vos bem. Não cuideis apenas de vós, pensai nos precisados que vos rodeiam. E embora isto acarrete fadigas e sofrimentos nesta vida, não percais a coragem: semeai nas lágrimas, colhereis na alegria. Pois não é assim, irmãos meus? O agricultor, quando lavra a terra e põe as sementes, não está às vezes receoso do vento frio ou da chuva? Olha o céu e o vê ameaçador; treme de frio, mas vai em frente e semeia, pois receia que, esperando um dia sereno, passe o tempo e já não possa semear.”

Irmã Josefa, esteja certa de que o Colégio Coração de Maria semeou bem e no momento certo, sem temer o céu ameaçador. É um orgulho para os santistas e uma luz imorredoura no altar do Senhor.

Meus sinceros parabéns por esta data magnífica e por esta homenagem mais do que merecida.

Muito obrigado

Dr. Augusto Zago