22/09/04 - Saudação à Diocese de Santos,

Sustentáculo da fé e fonte permanente que alimenta a esperança em nossos corações; braços abertos, dimensionando o tamanho do amor expresso nas várias vertentes de sua missão evangelizadora, a Diocese de Santos, que este ano completa 80 anos de existência, funde sua história com a da Igreja Católica no Brasil e a da própria colonização das novas terras descobertas por Portugal. À Igreja, aliás, cabe o mérito e a responsabilidade de ter servido como suporte, ao longo de cinco séculos, para a própria organização da estrutura política do País.

Compartilhe!

Curtir

                         

 

Uma análise, mesmo que superficial, da história brasileira sinaliza que a presença e a atuação da Igreja foram decisivas para forjar a identidade nacional e até para  configurar geograficamente o território. Fronteiras defendidas em sangrentas guerras em nome da soberania, inicialmente portuguesa e, finalmente, brasileira.

 

A bem da verdade, a memória desta Nação começou a ser escrita pela Igreja, pois até a Proclamação da República todos os registros oficiais dos indivíduos eram arquivados nas dioceses e paróquias. Não havia outro serviço de identificação, a não ser os registros eclesiais. 

 

Os historiadores são unânimes em apontar a criação da Diocese de Santos como fato culminante no processo de catolização das regiões brasílicas.

 

História que tem início na Portugal dos Descobrimentos, país incumbido pelo Papa, muito antes de 1500, da evangelização das terras descobertas ou por descobrir. Estava, pois, estabelecido o regime do padroado, concedido desde 1456 à Ordem de Cristo, tendo por grão-mestre o Infante D. Henrique, o Navegador.

 

          A criação da Diocese de Santos originou-se de um desmembramento da Diocese de São Paulo e esta, por sua vez, da Diocese do Rio de Janeiro. Isso porque a Capitania de São Vicente, que cobria grande extensão do litoral e do planalto, esteve subordinada, de 1748 a 1765, à Capitania do Rio de Janeiro.

 

          A criação do bispado paulista, oficializada em 6 de setembro de 1746, significou maior autonomia eclesiástica e, para marcar esse importante momento, D. João V doou para o bispado de São Paulo uma banqueta de prata maciça, um crucifixo e quatro castiçais, peças destinadas à futura catedral diocesana.

 

         Nessa época, o território da Diocese paulista abrangia do sul do atual Estado de Minas Gerais às fronteiras com o Uruguai, incluindo os atuais estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.

 

Durante o governo de Dom Duarte deram-se outros desmembramentos da Arquidiocese paulista, entre os quais a instituição da Diocese de Santos, em 4 de julho de 1924, formada a partir do desmembramento das dioceses de Botucatu, Taubaté e São Paulo.

 

         A Diocese de Santos compreende, desde 1974, a Baixada Santista e extensa área litorânea até Peruíbe, no Litoral Sul. Pode-se dizer que o primeiro pároco da Diocese de Santos foi Padre Gonçalo Monteiro, vindo com a esquadra afonsina, em 1532, e trabalhou até 1539, tendo sido loco-tenente do donatário Martim Afonso. Foi também vigário de Santos de 1549 a, pelo menos, 1560.

 

           A criação do primeiro bispado na Bahia foi, do ponto de vista eclesiástico, o inicio de uma sistematização da obra evangelizadora e, do ponto de vista político, representou o fortalecimento da centralização, que era um dos objetivos desta nova fase da colonização portuguesa. Dom Pero encabeçou a longa lista dos bispos do Brasil que, além dos trabalhos pastorais e evangelizadores, tiveram, com freqüência, de enfrentar conflitos contra colonos insubmissos e autoridades prepotentes e não poucos sofreram e até morreram por causa deste enfrentamento.

 

História de fé e coragem, como bem registram os estudiosos!

 

A Diocese de Santos sempre externou sua clara posição no complexo serviço eclesial que desenvolve e nunca se furtou a emitir sua postura face às novas demandas da sociedade contemporânea neste início do terceiro milênio, caracterizada por desafios e problemas inéditos, por um grande progresso e por transformações repentinas.

 

Ninguém ignora as grandes responsabilidades que recaem sobre o bispo, que precisa de discernimento, equilíbrio e profundos conhecimentos, não apenas eclesiásticos, mas sobretudo sóciopolíticos, para bem conduzir a Diocese e orientar a sociedade.

 

Guia espiritual, em comunhão hierárquica com o Sucessor de Pedro e também com os outros membros do Colégio episcopal, o bispo é tal qual um zeloso pai, que tudo faz, prodigalizando-se para formar a consciência de seu rebanho e para fazê-lo crescer na fé.

 

Com prudência pastoral, riqueza de humanidade, humildade, generosidade, sinceridade, capacidade de escuta e de diálogo, o bispo é a própria alma desse imenso coração que é a Diocese de Santos. 

 

Um coração que se mostra cada vez mais inquieto e preocupado com as questões que afligem a nossa comunidade.

 

Exemplo maior de sua inserção e  participação sociais é a cartilha Vamos falar de política, que a Diocese de Santos entregou ontem, durante reunião, a 28 dos 37 candidatos às prefeituras das nove cidades que integram a Região Metropolitana da Baixada Santista.

 

 

Em uma demonstração inequívoca de liderança e de conhecimento da realidade, tanto local como nacional, Dom Jacyr Francisco Braido elencou, na reunião com os políticos, os principais problemas sociais, promoveu aprofundada análise crítica e advertiu-os sobre as conseqüências de seus atos. A crítica também recaiu sobre parte do eleitorado, por décadas habituado a utilizar o voto como instrumento de barganha para benefícios pessoais.

 

Com esse ato, a Diocese de Santos mais uma vez demonstra seu poder como instituição, sua inequívoca liderança e o importante papel que desempenha na definição dos rumos da sociedade, reconhecendo a necessidade de expor as diretrizes pautadas no exemplo de Cristo e de colocá-las como referência para iluminar a continuidade da missão evangelizadora que precisa levar avante sua missão evangelizadora.

 

A atuação de Dom David Picão, bispo dioicesano durante 37 anos e hoje bispo emérito, e de Dom Jacyr, seu sucessor desde 2000 nessa difícil empreitada, dignificam o significado da palavra grega Episkopoi, ou seja, "supervisor"

 

Considerados sucessores dos Apóstolos, aos quais Cristo confiou a tríplice missão de magistério, ordem e jurisdição, os bispos - nomeados pelo Papa - desempenham, ainda hoje, a missão confiada àqueles religiosos que aceitaram o desafio de levar a Palavra do Criador ao Novo Mundo.

 

A simbologia da ametista do anel que ostenta o bispo, símbolo de fidelidade à Igreja; do báculo pastoral que representa a função de conduzir o rebanho de fiéis a ele confiado, e do uso de uma Cruz peitoral, entre outros paramentos originários de antigas tradições orientais, são respeitados e enaltecidos com desvelado orgulho por aqueles que reconhecem, com humildade, a incumbência que lhes cabe.

 

Longe de representar um fardo, mas sim a elevada missão, o Chamado Maior que somente os escolhidos podem atender, com a certeza de que o Discernimento Superior jamais lhes faltará.

 

Escrita com suor e sangue dos pioneiros, a história da Diocese de Santos é a história de cada um de nós. Fiéis que se unem aos outros milhões sobre esta Terra, na caminhada diária e no aprendizado que se renova a cada amanhecer, na certeza de que o plantio de hoje é a melhor certeza da colheita do porvir.

 

Lembrando a Oração pelos 80 anos da Diocese de Santos, a Câmara Municipal de Santos, ao cumprir propositura de minha autoria, tem a honra e o privilégio de outorgar ao bispo diocesano Dom Jacyr Francisco Braido Placa em agradecimento ao trabalho de todos aqueles, anônimos ou não, que desde tempos imemoriais encontram forças para levar adiante a missão de fé, esperança e caridade legadas pelo Criador.

 

Que as luzes emanadas da Cruz que se destaca na concepção heráldica que identifica a Diocese de Santos a mantenham, como sempre, atuante e vigilante no cumprimento de sua missão maior de abrigar, orientar e copnduzir homens e mulheres ávidos das únicas palavras que alimentam a alma e nos tornam parte integrante do grande mistério da Criação Divina.

 

          Parabéns, Diocese de Santos.

 

          Parabéns a todos nós que temos o privilégio de tê-la como condutora de nossos atos e corações.

 

         Parabéns, Dom David. Parabéns D. Jacyr. Que os seus exemplos fruti-fiquem e se consolidem para a eternidade.

 

 

                                                         Odair Gonzalez

                                                          Em 22 de setembro de 2004