24/08/04 - Pronunciamento do vereador Odair

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Convido a todos a empreender uma viagem no tempo.

        

Uma viagem de volta ao passado...

 

Retrocedamos o calendário para a nossa infância de tão boas e saudosas lembranças.... rememoremos as brincadeiras nas ruas, ...o cheiro do bolo saído do forno...as roupas de festa...a autoridade paterna, que impunha respeito....a doce cumplicidade das mães...a emoção do primeiro uniforme.....A ESCOLA!

 

         Vamos voltar mais ainda...

 

No início do século passado, um dos locais de encontro de crianças, jovens e adultos era um campinho no Bairro do Boqueirão, onde turmas animadas demonstravam suas qualidades de esportista, mal sabendo que, em um futuro não tão distante, jogadores de futebol desfrutariam de fama e prestígio, e seriam disputados nos mais longínquos países graças a suas habilidades com os pés. 

 

         Esse campinho, de propriedade da Companhia City of Santos Improvement, empresa canadense que explorava os serviços de energia elétrica e bondes, foi transformado depois em uma grande praça para onde convergia a sociedade da época.

 

         Mas Santos crescia  e novas necessidades surgiam, sobretudo quanto à Educação, que sempre foi, felizmente, uma das principais preocupações da comunidade.

 

         Graças à pressão exercida pelos exportadores de café, que não se conformavam de haver em Santos apenas classes de Primário em escola pública, o governador Armando de Salles Oliveira assinou, em 11 de agosto de 1934, decreto criando a Escola Estadual Canadá, o primeiro ginásio de Santos, permitindo às crianças a continuidade dos estudos.

 

Enquanto a Prefeitura construía o prédio do ginásio naquela área de propriedade da City, doada por ela ao Executivo, o Canadá funcionou no primeiro andar da escola Cesário Bastos, ainda hoje instalada na Av. Rangel Pestana, e depois para um imóvel na Av. Ana Costa.

 

Como homenagem à terra pátria da Companhia City, a escola recebeu o nome de Canadá e sua bandeira é semelhante à daquele país norte-americano: duas faixas verticais vermelhas e uma branca com a folha da árvore Maple em vermelho, no centro.

 

As faixas vermelhas simbolizam o sangue derramado pelos canadenses na Primeira Grande Guerra Mundial, a faixa branca simboliza a neve e a folha da Maple é o símbolo nacional do Canadá. Com suas folhas se produz açúcar e sua madeira é utilizada para vários fins.

 

Mas somente em 1996 essa árvore foi reconhecida como emblema nacional do Canadá. Existem 150 espécies conhecidas, mas somente 15 delas são encontradas na América do Norte, dez das quais no Canadá.

 

Em 1935, as aulas da Escola Estadual Canadá já estavam sendo ministradas no prédio que tão bem conhecemos, aprendemos a amar e que se transformou em verdadeira referência para a Educação, não apenas de Santos, mas de toda a região.

 

À época era o mais bonito, confortável e moderno edifício de ensino médio estadual, cuidado com zelo e rigor pelo diretor Malachias de Oliveira Freitas. O próprio governador Salles Oliveira esteve presente à inauguração do prédio escolar.

 

Em 1943, a Reforma Capanema instituiu o segundo ciclo no Estado, mudança que só chegou a Santos dois anos depois graças à intervenção do professor Sud Menucci, chefe do Departamento de Educação do Estado. No ano seguinte, em 1946, foi instalado o curso normal no Canadá.

 

Em 1963, a escola foi ampliada com um anexo e passou a funcionar com 32 salas. Na época em que o professor Edézio Del Santoro foi diretor, o Canadá  chegou a ter 101 classes funcionando – certamente foi a maior escola , tanto pública como particular, a funcionar em Santos. Em 21 de dezembro de 1968 foi criada a Associação de Pais e Mestres e o ginásio de esportes, coberto.

 

Para que se viabilizasse a boa administração da unidade de ensino, mantendo sua tradição de qualidade, o Canadá foi desmembrado. No prédio que passou a se chamar Escola Estadual Ruy Ribeiro Couto passaram a funcionar as classes do Segundo Grau, hoje denominado Ensino Médio.

 

Em 1987, com a extinção da Escola Norman Kerr Jorge, o Canadá voltou a contar com ensino de 1º grau e, em 96, com a reorganização do ensino público no Estado de São Paulo, a escola voltou a ser de Ensino Médio Aliás, o Canadá teve a primeiro curso de Ensino Médio específico para deficientes visuais.

 

O corpo docente, integrado por profissionais até hoje lembrados por sua competência, rigor e boas doses de atenção, ficou na memória dos ex-alunos. É difícil mesmo esquecer do professor Raul, de Matemática; das professoras Célia Sagaroza e Magda; do professor Sodré, sobrinho do primeiro diretor e ex-aluno do Canadá....

 

 

O exame de admissão ao ginásio, tão rigoroso quanto um vestibular, fez história nesta região. Não foram poucos os alunos que perderem noites de sono, dedicando-as aos estudos. E maior ainda foi o número de pais e mães ansiosos, fazendo promessas aos santos de sua devoção e barganha com os filhos para que tivessem sucesso nas provas.

 

Passar nesse exame era motivo máximo de orgulho para as famílias, que apregoavam aos quatro ventos a inteligência da prole.

 

Mas os tempos foram mudando... Assim como mudaram a dinâmica das famílias, a sociedade, as diretrizes curriculares, a Educação, as tecnologias...tornando o mundo e a economia globalizados, situação com a qual hoje nos confrontamos, ainda aturdidos e sem saber exatamente para que caminho segue a humanidade...

     

Com tantas mudanças e descobertas, reconforta-nos passar em frente à Escola Estadual Canadá. Saber que aquela escola que AINDA FAZ PARTE de nossa história continua ali ... sólida... e acolhendo, a cada ano, centenas de novos alunos.

 

A escola parece representar um foco de resistência, chamando sobre si as atenções, transpondo-nos em frações de segundo – e sem que precisemos fechar os olhos – ao nosso paraíso perdido....a nossa infância.

 

Formar o verdadeiro cidadão sempre foi o objetivo maior da Educação e dos profissionais da Escola Estadual Canadá. Preocupação que se mantém, tanto que em 2002 o corpo docente promoveu a gincana da Cidadania, que teve como tema central a FOME, mobilizando e sensibilizando a comunidade quanto a esse drama social.

 

Dando um sentido lúdico e cultural a mais uma etapa da Gincana da Cidadania, no ano passado, em parceria com o Grupo Pão de Açúcar, os alunos doaram um quilo de alimento e receberam, em troca, um livro.

 

Além disso, foi desenvolvido o Projeto Água Potável na Ecologia Humana, de caráter interdisciplinar e promovido em parceria com a organização não-governamental Amigos da Água. E diariamente, direção e equipe da Escola Estadual Canadá continua a dar exemplos, honrando um passado que nos deu de presente talentos como Cacilda Becker, Ney Latorraca, Cláudio Mamberti; o escritor Pedro Bandeira; a reitora da UniSantos, Maria Helena Lamberti; os médicos Nei Romiti e Augusto César Conforti; o senador Aloísio Mercadante; vereadores como José Carlos Vieira, Marinaldo Mongon, Antonio Carlos Banha Joaquim, Carlos Eduardo Adegas, eu... 

 

Todos, indistintamente, são importantes e famosos a seu modo...Mesmo porque fazem parte de uma das páginas mais importantes da história da Educação em Santos, eternizada graças ao professor Jair Ng Toi Men que, juntamente com outros educadores, criou, há quatro anos, a Associação dos Ex-Alunos do Colégio Canadá.

 

Que no dia 17 de setembro, no Clube Atlético Santista, grande parte dessa história esteja reunida para festejar, em um jantar dançante, a alegria de viver e de fazer parte da grande família da Escola Estadual Canadá.

 

Esperemos que as novas gerações carreguem no coração lembranças tão especiais como as que temos...

 

Que transmitam a seus filhos emoções semelhantes às que tivemos...

 

Que encham o peito de orgulho e digam... EU TAMBÉM ESTUDEI NO CANADÁ!

ODAIR GONZALEZ

Em 24 de agosto de 2004