23/06/04 - Agradecimento na íntegra

Agradecimento da advogada Dolores de Mello Vassão

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Senhores membros  da Mesa
Autoridades presentes
Senhoras, Senhores.

Meus agradecimentos à Edilidade por esta noite memorável , extensivo aos amigos que aqui vieram  hipotecar solidariedade ao nosso NUCATIS que está completando dez anos .Sabemos que pertencemos a uma comunidade quando perpassamos o olhar a nossa volta e deparamos com tantos rostos conhecidos.O momento é festivo e de muita alegria, mas o tema é Velhice. Vamos falar de velhice e não o faço com desalento mas com a visão de quem  pode vislumbrar o panorama da situação inglória que vive o nosso idoso.Se formos procurar as causas das atitudes assumidas ao longo do tempo  em relação ao idoso, vamos encontrar desde traços culturais que levavam  à eliminação sumária e o abandono entre tribus indígenas até o aproveitamento de idosos na liderança política em sociedades de tendência gerontocrática.

Hoje as causas econômicas e sociais falam mais alto.

O idoso tende a ser um desajustado em relação à família, à sociedade e  a  si próprio. É estranho na família, porque vive fora do tempo e suas opiniões e lembranças pertencem ao passado e entra em choque com os membros mais jovens, desencadeando intranqüilidade e ambiente tenso na família.

Se olharmos para a socieade, o desajuste começa pela perda do “status” ocupacional que conduz à marginalização e isolamento do idoso. Sem falar nos proventos do aposentado, cada dia mais minguados pelo aviltamento da moeda corroída pela inflação, somado à  frustração com as atitudes de governos que ele própria ajudou a eleger e agora perpetra a injustiça de subtrair polpuda parcela dos proventos que por direito adquirido lhe pertence, ao arrepio dos ditames constitucionais que são o alicerce da democracia. E nós vivemos numa democracia, porque lutamos por ela. Não podemos esquecer também esse outro corolário do envelhecimento que são as doenças, marca registrada do idoso, os reumatismos crônicos, as cardiopatias, etc, etc. e contrariando o livro da Helle, minha companheira de jornada “Envelhecer não dói”, talves ela não acredite em bruxas mas que las hay, hay.

Com relação à sua própria pessoa o desajuste do idoso começa pela tomada de consciência de sua inutilidade, a sensação de ter chegado ao fim da linha.

Às vezes partem para o lado contrário, viajando nas suas fantasias sexuais que podem leva-lo a situações ridículas e até resvalam para o suicídio.

Chegamos a uma triste conclusão, como afirma Odília Fachin: A sociedade atual  não está preparada para receber o  idoso e este não esta preparado para receber a velhice. E o que é pior, o idoso está entregue à sua própria sorte, ele vem sendo subliminarmente descartado, conforme algumas teses nesse sentido.  Basta um olhar mais atento à nossa volta: começando pela tirania das dietas, se formos ouvir os médicos acabamos morrendo da cura .

Recomendam caminhadas de quilômetros, ginástica na praia, fisioterapia, relaxamentos, ioga, musculação, natação, culminando com a culinária light e diety, dirigida aos idosos,subscrita até pelo Instituto do Coração.

Como devemos interpretar essa campanha subliminar muito sutil e engenhosa?  Como se preocupam com os idosos, como sâo bomzinhos. No fundo  quer dizer que cuidemos de nós mesmos para não adoecer, para não darmos trabalho para a família e não onerarmos o SUS. Que se pode fazer com essa sociedade caótica, Previdência falida e família desagregada?Vamos fingir que não entendemos, vamos aceitar de bom grado essas ofertas dadivosas, porque o ideal mesmo é morrer com saúde.[Não vamos desanimar, tem jeito sim, temos duas ferramentas. A primeira é o Estatuto do Idoso, capenga, incompleto, incoerente, repetitivo mas passível de arrumação. Essa vai ser  a  nossa luta no NUCATIS e de todos os cidadãos conscientes, debater o problema para melhorar e corrigir essas distorsões com a proposição de emendas,de Medidas Provisórias, de Adins, enfim, acionando todos os instrumentos legislativos , legais e judiciais de que dispomos, elaborando  programas visando a preparação social, psicológica e física  do idoso a fim de proporcionar a sua inserção na família e na sociedade.A nossa tarefa é a divulgação do Estatuto do Idoso para que ele conheça os seus direitos e lute por eles,  exija dos poderes públicos o seu cumprimento. Precisamos do esforço conjunto da sociedade civil e do Estado, porque à medida que o contingente de idosos aumenta o problema transcende o âmbito individual e torna-se uma questão social. Daqui a pouco seremos uma republica de idosos.
A expectativa de vida aumenta, ao passo que a taxa de natalidade vem na contra – mão. A segunda ferramenta é o exercício da cidadania que tem no voto a sua lídima expressão. O voto antes de ser uma obrigação é um  direito do qual não podemos abrir mão, não importa a idade, o idoso não pode abrir mão do  direito de escolher os seus representantes, não importa qual seja o partido, pois o bom parlamentar é aquele envolvido com a nossa causa.Não podemos esperar, o nosso futuro é hoje. Não tenhamos pejo de insistir nas nossas reivindicações, de exigir o respeito que nos é devido, porque o simples fato de termos chegado até aqui já faz de nós vitoriosos. Parafraseando Agostinho Neto podemos dizer: Nossas mãos  puseram pedras nos alicerces do mundo, merecemos nosso pedaço de pão.