13/08/04 - Discurso do vereador Geonisio Pereira de Aguiar

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            Era uma vez, três árvores que nasceram em uma pequena colina na cidade de Belém. E puseram – se a conversa sobre o que desejariam ser quando fossem maiores.

            A primeira árvore disse às outras duas:

            __ Quando eu crescer quero ser uma bela arca e guardar o maior tesouro que o mundo já conheceu.

            A segunda árvore, então disse;

            ___Eu quero ser um belo barco e navegar com o melhor dos homens. O mais poderoso que o mundo já viu.

            A terceira árvore falou, por sua vez:

            ___Eu quando crescer quero ficar sempre apontada para o céu, olhando o infinito.

            Um dia veio o lenhador e cortou a primeira árvore, transformando - a num coxo para alimentar os animais e mais tarde esse coxo serviu de berço para o menino Jesus, que é o maior tesouro que o mundo já ganhou.

            A segunda árvore derrubada pelo lenhador, transformou - se em um rude barco de pesca e nele o Senhor Jesus navegou junto com os apóstolos.

            A terceira e última árvore que queria o infinito foi derrubada e cortada em duas partes, sendo confeccionada uma Cruz, onde Jesus foi crucificado para nos salvar:

            Assim as três árvores mesmo por outros caminhos atingiram seus desejos...

            Todos nós podemos ter uma perspectiva de vida, porém nossos desejos só serão contemplados se  nosso caminho for trilhado na fé do Senhor.

           

            No dia em que Frei Rozântimo chegou a Santos, para ser mais preciso em 11 de fevereiro de 1992, colocou a mala no chão e olhou para a fachada do SANTUÁRIO SANTO ANTONIO DO VALONGO: foi amor à primeira vista.

            De um lado o respeitoso templo tricentenário e de outro o jovem recém-chegado, praticamente iniciante em seu ministério, carregando na mala sonhos e ideais.

            Mas, como nem a maior das paixões sobrevive sem provações, os problemas começaram a aparecer e logo na primeira semana: goteiras, vazamentos, telhas deslocadas, umidade ganhando terreno, só para citar o que saltava à vista depois de uma olhadela superficial.

            Deixando correr solta a imaginação, penso que o bravo frei deve ter olhado para a mala, ainda parcialmente desfeita, na tentação de fechá-la, relatar ao provincial, os problemas encontrados e abandonar o templo ao seu destino que seria, mais cedo ou mais tarde, cerrar as portas.

            Nesse momento de dúvida, aparece a têmpera dos missionários, dos lutadores, dos corajosos, dos que arregaçam as mangas diante das dificuldades. Decidiu ficar e enfrentar os contratempos.

            Frei Rozântimo selou seu destino de homem que busca soluções, cava recursos, faz o possível e o impossível para sensibilizar as pessoas de que aquela luta era justa e a vitória certa, mesmo que ele mesmo duvidasse em certos momentos.

            Os primeiros meses foram tempos de contabilizar os estragos, de avaliar a dimensão do problema, de reuniões e mais reuniões com líderes da comunidade buscando alternativas e formas de realizar o que parecia impossível: a manutenção e, mais tarde, o restauro do edifício histórico.

            No dia-a-dia, percebeu que muita coisa em volta piorava: o estado do prédio já estava comprometido, trânsito pesado de caminhões causando trepidação, poluição pesada causada pelos canos de escapamentos e muitos outros agravantes.

            A primeira tentativa de obter recursos, foi o pedido para que o Santuário do Valongo, voltasse a realizar cerimônias de casamento, mas logo percebeu que era pouco, que os estragos causados por anos de abandono eram muito maiores do que se pensava a princípio. Havia necessidade de trocar todo o encanamento e toda a parte elétrica, refazer o telhado, reter a umidade e, tudo isso, sem descaracterizar o prédio tombado pelo patrimônio histórico municipal e estadual.

            Foram dias difíceis.... as contas e as incertezas se acumulavam, os recursos eram poucos, as perspectivas acanhadas e desanimadoras.

            A luta foi sendo vencida devagar, etapa por etapa. Não houve facilidades, nada caiu do céu, cada pequena vitória foi fruto de muito trabalho, de muito suor, de muito discurso, de muita oração, de muita fé. As pessoas, as empresas foram aderindo, percebendo a importância do que acontecia, a seriedade das pessoas empenhadas e a perseverança do frei teimoso. Quem não podia ajudar materialmente, ajudava orando, intercedendo, rogando aos céus que desse força e um pouquinho mais de esperança ao frei que às vezes desanimava.

            Com o tempo foi se tecendo uma grande teia de solidariedade em volta de Frei Rozântimo e de seu sonho de restaurar o Valongo. Os fios se estendiam cada vez mais e iam cada vez mais longe.

            A cada nova etapa vencida surgia outra necessidade, também urgente. Nisso foram-se nove anos, foi-se boa parte da juventude e da vida do nosso frei.

            O final da história todos conhecem. O Valongo está hoje restaurado, a rua em frente livre de poluição e do trânsito de caminhões. O Valongo é, diariamente, visitado, fotografado, comentado e admirado por turistas e habitantes da baixada santista.

            Mas um dia, Frei Rozântimo teve que arrumar as malas para ir embora. Quem acompanhou de perto, presenciou a angustia dos dias anteriores a partida e a tristeza nos olhos do frei e dos amigos; afinal um pedaço da história do Valongo estava nos deixando.

            A princípio pensamos que ele iria embora tão tranqüilamente quanto chegara. Mas perto da hora da partida o coração do frei percebeu que estava deixando uma parte da sua vida, da sua história, da sua existência. E o frei sofreu. Chorou nas missas, chorou em cada abraço de despedida, chorou olhando cada canto do prédio que conhecia de cor.

            O que mais falar sobre esse homem que chegou praticamente sem nenhuma pretensão a nossa cidade e hoje é lembrado como grande empreendedor, comunicador e líder. Mas o mais importante para nós aqui, hoje, é que a nossa cidade foi escolhida por este grande homem como sua cidade. Quem conhece frei Rozântimo sabe que seus olhos brilham enquanto caminha pelas ruas desta cidade, principalmente pelo centro histórico. Que seu coração bate mais forte quando ele volta ao Valongo e olha a fachada da igreja que foi seu lar por quase uma década. Na verdade frei Rozântimo nunca conseguiu deixar esta cidade e, nós, nunca conseguimos deixá-lo partir.

            Mesmo longe ele é lembrado, mesmo distante é tema de conversas, mesmo vivendo em outros três conventos desde que partiu continua morando por aqui. Esta é a maior homenagem que podemos prestar ao frei Rozântimo hoje: percebê-lo em cada circunstância, vê-lo em cada evento, mesmo ele não estando mais por aqui com a freqüência que desejaríamos.

            Esta é a maior homenagem Frei Rozântimo, você retirou-se apenas de corpo, sua alma e seu coração ainda estão por aqui....e É por isso que, com muito orgulho te entrego o Título de Cidadão Santista .