10/08/04 - Pronunciamento na íntegra

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Saudação do Vereador Odair Gonzalez (PP)

Referência humana fundamental, espaço onde o indivíduo finca os alicerces que marcarão, de forma indelével, cada dia de sua existência, a família é a base da primeira e indispensável educação para todos os âmbitos, quer cultural, social e espiritual.

Lugar primário e privilegiados das relações humanas, a família é o elemento construtor da sociedade, verdadeira artífice de uma sociedade com valores e com futuro.

Muito já se falou dessa célula básica da sociedade. Mas por mais que se discuta, estude ou se analise a família, jamais dela será possível prescindir. Em nome da modernidade, passou por várias experiências, algumas delas ampliando seu núcleo e  transformando comunidades em pais e mães coletivos. Na verdade, mudou-se apenas a nomenclatura. A filosofia que pautou tais experiências e sociedades, o cerne, foi o mesmo o que se conhece desde os primórdios dos tempos.

É na família que se vive e se transmitem valores e ideais à descendência. Que se fundamentam e fortificam os alicerces da sociedade e da civilização.

Defender e promover a família como instituição, como o lugar primeiro da Educação, é tarefa que exige constância, fidelidade, audácia e bom senso para ir contra a corrente dos que pregam sua falência e sacramentam sua morte como instituição de forma a impedir que, em nome dos direitos da individualidade, a falta de valores, as ideologias do relativismo e a permissividade da mente se impregnem nos tecidos sãos da sociedade.

Não importa quão moderno e auto-suficiente se proclame o homem. A família é a base da construção da sociedade, artífice de indivíduos que enxergam além de seus limites e necessidades, consciente da interação e desse fio condutor que une toda a humanidade.

Recuperar o sentido espiritual da vida e da família é hoje uma prioridade imperativa. A família está, de fato, bombardeada por todo tipo de influências negativas e desagregadoras, frutos de uma sociedade que ainda busca seu zênite. Encontra-se ameaçada em sua existência institucional, com conseqüências que constatamos e vivemos todos os dias em nossas próprias casas, nas escolas e nas cidades.

A família, suas eventuais variações de organização e estrutura, são alvo de constantes estudos através dos tempos. A antropóloga santista Cynthia Sarti, que vem se aprofundando nesse tema, acredita que a exposição do indivíduo às possíveis transformações dos panoramas social, político, cultural, econômico e biológico alteram os códigos e valores utilizados na interpretação da realidade e do próprio universo familiar. E no mundo contemporâneo a velocidade dessas mudanças é mais expressiva e as considerações e todas as variantes são potencializadas.

Para surpresa dos mais incrédulos, pesquisa nacional realizada em fevereiro pelo Datafolha constatou que a família é uma das instituições sociais mais valorizadas pelos brasileiros e ocupa o primeiro lugar em suas vidas. Numa escala de grau de importância, a maioria a remete à categoria do extremo positivo.

Mas interessante ainda é discriminar sobre quais bases essa instituição se sustenta e o conceito que a mantém, analisando se os dogmas seriam os mesmos de 10 ou 20 anos atrás. Apesar de detectar algumas mudanças, o estudo traz de volta velhas questões que ultimamente vinham sendo tratadas, se não como definitivamente resolvidas, pelo menos como ultrapassadas.

O melhor exemplo é o papel da mulher dentro da família. A constituição básica da família brasileira ainda é nuclear – ou seja, marido, esposa e filhos. Mas esse tipo de estrutura vem perdendo espaço para o esquema matrifocal, percebendo-se entre os mais jovens uma elevada taxa de entrevistados que moram apenas com suas mães. Considerando-se tal constatação, é fácil identificar o motivo do crescente prestígio da figura materna e a consequente queda na importância atribuída ao pai.

No decorrer da análise da pesquisa do Datafolha, é possível observar reflexos do panorama gerado por esses dados: entre os integrantes das novas gerações, a valorização dos "laços de sangue" e do casamento ficam abaixo da média; o pai é a pessoa da família com quem menos se conversa; as jovens de hoje procuram muito mais maridos fiéis e compreensivos do que trabalhadores e arrimos. 

A geração dos anos 90 condena muito mais o aborto e a gravidez antes do casamento do que a geração dos anos 70, atualmente na faixa entre 35 e 44 anos. Os jovens de hoje também preferem o diálogo ao conselho, não formalizam suas uniões e estão tendo filhos mais cedo.

Os brasileiros em geral aprovam o relacionamento que têm com as pessoas de casa, reúnem a família para assistir TV e almoçar nos fins de semana, supervalorizam a fidelidade, costumam falar sobre sexo com seus cônjuges, sobre futebol com os pais, sobre os vizinhos com a mãe e, como não poderia deixar ser, se contradizem em determinados pontos. Apesar de não atribuírem muita importância ao casamento e não considerarem o fato de ter filhos fundamental para a felicidade de um casal, a grande maioria quer viver tais experiências.

Na pesquisa ficou patente que os brasileiros enfatizam a importância da família em suas vidas. Em um ranking de valores elaborado pelo Datafolha, a família fica na primeira colocação, empatada com o tópico educação. Ainda foram incluídos no levantamento fatores como trabalho, religião, dinheiro, casamento e lazer.

O entrevistado foi solicitado a classificar os itens segundo o grau de importância que têm para si.  
Família e estudo ficaram com 61% na preferência dos brasileiros. Em terceiro lugar, com 56%, aparece o trabalho. Na quarta colocação fica a religião, com 38%. A importância do dinheiro é enfatizada por 36%. Em relação ao casamento, essa taxa é de apenas 31%. O lazer aparece em último lugar, com 28%.

A valorização da família é mais expressiva entre as mulheres, os mais jovens, os que possuem renda familiar de 10 a 20 salários mínimos e os que têm escolaridade acima da média. Focalizando-se as diferentes gerações contempladas no estudo, definidas com base na década em que os entrevistados completaram 16 anos, nota-se que a partir dos anos 70, a percepção de importância da família cresce significativamente. As gerações de 80 e 90 tendem a valorizá-la com maior ênfase.

Indubitavelmente, as novas gerações desenvolveram novas formas de interagir com seus familiares. Eles reconhecem – mesmo se rebelando contra alguns de seus preceitos – que tudo se inicia na família.

Nela são postos os fundamentos sobre os quais se constrói a vida de cada um. Na medida em que esta passagem pela família for desastrosa, também o futuro será desastroso... e na medida em que esta passagem for positiva, educadora, personalizante, socializadora, o futuro será bom.

E – como nós, cristãos, sabemos – a vida familiar deve ser também uma experiência transformadora, fazendo aflorar e incutindo nos corações de seus integrantes os verdadeiros valores que nos distinguem como humanos... – seres com compaixão e solidários, preocupados com o próximo e preparados para entender o real significado do perdão, e que acreditam que sobre esta terra há uma missão maior do que simplesmente desfrutar de benesses ou dar vazão a seus instintos.

É na família que a criança aprende que o verbo Amar não se conjuga como um simples impulso, um sentimento que exige satisfação imediata.  Amar envolve a personalidade toda.  A criança compreende que amar é um verbo cujos múltiplos tempos e modalidades é preciso saber conjugar, aprendendo progressivamente a respeitar, aceitar o próximo, perdoar, esperar, doar-se.

Com o tempo, ela passa a entender a importância de ser fiel aos princípios maiores da humanidade e, sobretudo, ao sentimento que pulsa no peito e que se materializa nas pessoas amadas. Uma fidelidade de princípios que gera felicidade...

Por outro lado, todos sabemos como a família sofre atualmente com a falta de apoio e de condições por parte da sociedade, em especial por falta de leis adequadas. A família é vítima das estruturas viciadas da sociedade. O próprio papa João Paulo II lembra que na família “repercutem os frutos mais negativos de subdesenvolvimento: índices deprimentes de insalubridade, pobreza e miséria, ignorância e analfabetismo, condições desumanas de moradia, subalimentação crônica e tantas outras realidades não menos confrangedoras”.

Para superar tais realidades é preciso uma política sócio-familiar inteligente, audaz e perseverante, também por parte das autoridades públicas. E “distribuir com maior justiça a riqueza, para que todos possam participar eqüitativamente dos bens da criação”, como prega o Sumo Pontífice.

A família é transformadora da sociedade enquanto garante o direito fundamental da pessoa, que é o direito à vida, e pode ser considerada uma grande escola que tem o Amor como única disciplina pautando suas atitudes. Não são necessários estudos científicos para comprovar que pessoas educadas sem amor carregam dentro de si o germe da desagregação e da revolta contra a sociedade, ruminam constante angústia e destilam seu ódio contra a humanidade, sendo capazes e atos de verdadeira barbárie.

A família precisa ser protegida com claras políticas públicas, para que a sociedade não canalize os já escassos recursos com a construção de prisões, ampliação do efetivo policial e complexos sistemas de segurança. Investimentos que não trazem os resultados almejados porque o problema é mais profundo - está no âmago da pessoa.  

Essa, certamente, era a preocupação daquelas equipes de Nossa Senhora, que em 1973, pioneiramente no Brasil, começaram em Santos a comemorar a Semana da Família. A iniciativa disseminou-se por todo o Estado de São Paulo, ganhou corpo e forma, e foi depois encampada pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, a CNBB.

Este ano, a Semana da Família, cujas comemorações são abertas oficialmente no Dia dos Pais, tem como lema ‘Em família, queremos ver Jesus!’. A programação elaborada pela Igreja visa mobilizar toda a sociedade para a reflexão, a redescoberta e a promoção dos verdadeiros valores humanos e cristãos da família, como o amor, a amizade, a partilha, a solidariedade, a justiça e a comunhão entre os homens.

O futuro da humanidade passa pela família, reafirmou várias vezes João Paulo II. Cabe, portanto, a cada um de nós que hoje aqui se encontra, disseminar aos quatro ventos essa mensagem pois, à medida que descuidarmos dessa instituição, que não a reconstruirmos dia a dia e a fortalecermos dentro de nossos coração, damos um passo para aumentar as incertezas do futuro da própria humanidade.

Em sua Exortação Apostólica sobre a família, com o titulo “Familiaris Consortio”, João Paulo II apresenta-nos sobre ela uma definição, que resume toda grandeza da instituição e toda a força dessa que é a célula primária e vital da sociedade. Diz o papa que “A família é o Santuário doméstico da Igreja.”

Efetivamente, a família é a esperança da Igreja e do mundo.

Portanto, que hoje saiamos todos daqui imbuídos do nobre propósito de colocar em prática o lema maior de mais esta Semana da Família: vamos ver Jesus plasmado nas faces desconhecidas de nosso próximo e no rosto multirracial da grande família humana.

Que cada um de nós cumpra sempre a missão que nos cabe: a de transformar em atos concretos as mensagens de Amor, Fraternidade, Solidariedade e Apoio, necessárias  para que nos tornemos, efetivamente, uma única família, ...um único corpo, ...a célula vital do Criador.

                                                          Odair Gonzalez,

                                                     em 10 de agosto de 2004