Parlamentar homenageia preso político do navio Raul Soares

Reportagens do Diário do Litoral serviram de apoio à requerimento

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Na sessão ordinária da Câmara de Santos, que acontece hoje, dia 8 de novembro, o líder do governo, vereador Marcus De Rosis, homenageará o médico nefrologista e fisiologista, professor emérito da Faculdade de Medicina da Cornell University, Dr. Thomas Maack.

O especialista, que viveu no Brasil desde um ano de idade, formou-se em medicina pela Faculdade de Medicina da USP e foi forçado a sair do país aos 29 anos, estará no plenário Dr. Oswaldo De Rosis para receber uma placa, ocasião que acontecerá durante o expediente da sessão ordinária.

Preso político do navio-prisão Raul Soares, que serviu de presídio flutuante, atracado no Porto de Santos, nas proximidades da Ilha Barnabé, entre abril e outubro de 1964, durante a Ditadura Militar, o médico alemão é hoje um dos maiores cientistas em pesquisas médicas do mundo.

Na sessão da última segunda-feira, dia 05, De Rosis apresentou requerimento lembrando a triste história do navio Raul Soares, marcada por torturas e violências praticadas contra presos políticos, e pedindo ao Governo Federal que apure, por meio da Comissão Nacional da Verdade, o que de fato aconteceu durante aqueles meses no navio.

A propositura foi baseada na série de reportagens do Jornal Diário do Litoral, intitulada “Democraria à Deriva”, que enviadas juntamente com o ofício à Presidente Dilma.


 
DISCURSO HOMENAGEM AO MÉDICO THOMAS MAACK


Esta noite é uma daquelas que podemos qualificar como histórica. Não é apenas uma noite de uma merecida homenagem. Mas, uma noite que resgata parte da história de nossa cidade, relembra um período difícil dessa mesma história para o sindicalismo.
Trata-se de uma noite de homenagens a um personagem bastante querido desta mesma história. Mas, também é uma noite em que teremos que mexer em ferimentos já cicatrizados e isto pode doer na alma daqueles que sofreram as torturas nos cárceres da ditadura militar.

Neste plenário, em nossa frente, para receber aplausos de todos os senhores e senhoras está o médico, professor, cientista e pesquisador Thomas Maack. Um personagem e também vítima dessa história escrita com torturas dentro do Navio-Prisão Raul Soares, de triste memória para todos nós.

Um homem sério e honrado e hoje um profissional famoso internacionalmente, mas que, como tantos outros inocentes, foi perseguido e preso pela ditadura militar sem ter cometido crime algum. E foi trancafiado no navio Raul Soares, ancorado aqui em nosso porto, no ano de 1964. E o pior: teve que fugir do País e se exilar nos Estados Unidos, deixando para trás sonhos e uma vida destruída.

Preso pela Ditadura Militar, ficou confinado no navio-prisão Raul Soares por quatro meses, de junho a outubro de 1964. Entretanto, o presídio flutuante não tinha médico e coube a ele, mesmo na condição de preso político, fazer atendimentos aos presos. E nessa condição, ajudou a salvar vidas de sindicalistas e de outros prisioneiros, que doentes eram socorridos pelo médico, retirados dos calabouços do navio-prisão e encaminhados aos hospitais da região.

Durante muitos anos ele foi considerado um mito ou uma lenda nos fatos narrados por presos do navio Raul Soares. A figura do jovem médico de cabelos de fogo, que também era um dos presos, foi sempre relatada e lembrada com gratidão por presos políticos e sindicalistas que ficaram confinados no presídio flutuante. Mas, ninguém sabia seu paradeiro, qual teria sido seu destino após a desativação do navio ou mesmo se estava vivo.

Pois bem, este personagem e também uma das vítimas desse triste capítulo do sindicalismo de Santos está de volta a Santos. Está aqui neste plenário. Veio de Nova Iorque, nos Estados Unidos, País para onde a vida o levou em busca de exílio político. Hoje, ele é cidadão americano, médico, professor universitário e um dos maiores especialistas em pesquisas médicas do mundo. Tinha 29 anos de idade quando teve que fugir do Brasil e hoje está com 77 anos. Formou-se médico no Brasil, na USP, é casado com a brasileira Isa, que o acompanha neste plenário.

As asas do destino que o levaram para tão longe do Brasil, são as mesmas que o trazem esta noite de volta a esta cidade, a terra da caridade e da liberdade, para que possamos agradecer-lhe e render-lhe esta homenagem. Vemos nas galerias os sindicalistas que também vieram para abraçá-lo e agradecê-lo.

É com grande orgulho podermos, após quase cinco décadas, resgatar uma parte dessa dívida de nossa cidade com o Dr. Thomas Maack. Em nome de todos os vereadores desta Câmara e do presidente Manoel Constantino, saudamos e cumprimentamos o nosso homenageado e num só coro dizemos: muito obrigado.