Aposentadoria: escravidão financeira

Artigo publicado em A Tribuna

Compartilhe!

3 curtiram
Sonho de nove entre dez trabalhadores, a aposentadoria é, em teoria, o período da vida em que o trabalhador tem para gozar do merecido descanso, após no mínimo três décadas de contribuição ao seguro  ocial público. Mas na prática não é bem assim. Seja por tempo de contribuição, por idade ou invalidez, quem chega à aposentadoria depara-se com um futuro nada promissor, onde o declínio do padrão de vida é inevitável.Nos últimos 13 anos, a diferença nas correções salariais dadas aos benefícios dos aposentados gerou perdas de mais de 45%. Sem falar do fator previdenciário, que escandalosamente impossibilita trabalhadores de se aposentar apenas dentro dos critérios de idade ou de tempo de contribuição.
Os números são tão alarmantes quanto vergonhosos. Dos 24 milhões de aposentados e pensionistas no Brasil, ínfimos 1% são independentes financeiramente. Segundo o Instituto de Educação Financeira (Disop), dos outros 99% dos aposentados, 46% dependem de parentes, 28% estão na beira da miséria e 25% têm que continuar trabalhando para sobreviver.

Essa triste realidade acarreta a escravidão financeira dos idosos, além de contribuir para o crescimento de problemas sociais, como a depressão na terceira idade, gerada pelo baque do término das atividades profissionais, somado a brusca dependência financeira dos familiares, entre outros fatores.

E é nesse momento de fragilidade financeira e psicológica que agem as inescrupulosas financeiras, oferecendo empréstimo consignado aos aposentados com juros muitas vezes mais altos que os dos próprios cartões de crédito, verdadeiras armadilhas vendidas nas propagandas como se fossem uma grande oportunidade.

Outro problema é a informalidade, oriunda da baixa renda dos aposentados e da não regularização da desaposentação, benefício que aumentaria a renda dos aposentados e proporcionaria dignidade aos aposentados que permanecem na ativa.

Os remédios são mais um drama na vida dos aposentados. Segundo pesquisas, medicamentos e planos de saúde consomem cerca de 70% dos rendimentos do aposentado, que acaba a mercê da sociedade, impedido de levar uma vida digna. Os genéricos, que deveriam trazer economia, tornaram-se uma grande ilusão.

Em um país onde a faixa etária da população com mais de 65 anos dobrou nos últimos 60 anos - e a projeção do Banco Mundial para 2050 é de que haverá 64 milhões de brasileiros na terceira idade - a aposentadoria continua sendo tratada com descaso, como se ao deixar de servir ao mercado de trabalho, o trabalhador passe a não ter mais valor, e deixe de ter seus direitos constitucionais garantidos.

Ao contrário daqui, em países de primeiro mundo o respeito e o agradecimento aos idosos são demonstrados com saúde pública de qualidade, salários dignos e, principalmente, em proporcionar qualidade de vida e tranquilidade para que essas pessoas possam aproveitar da melhor forma possível os últimos anos de suas vidas.

Mas no Brasil, infelizmente, o período da vida que deveria ser de tranquilidade tornou-se um grande sofrimento. A Previdência Social alega que não há caixa suficiente para suportar o crescimento do número de aposentados, mas a realidade é que as autoridades não buscam soluções pensando no trabalhador. Enquanto isso, o brasileiro permanece refém, escravo de um sistema previdenciário falho e de um país que não valoriza os seus.

*Marcus De Rosis é vereador pelo PMDB na Câmara Municipal de Santos e vice-líder do Governo

Álbum de Fotos