O ser humano sofre como todos os animais com a dor física, no entanto, sem sombra de dúvida, a dor da alma, o sofrimento psíquico, é muito maior e mais difícil, uma vez que o remédio para a alma independe por vezes do médico ou do tratamento, quase 100% depende do próprio indivíduo no seu equilíbrio, mente, corpo e espírito.

Os números são alarmantes, o número de suicídios cresceu assustadoramente, principalmente entre os mais jovens. A imprensa tem falado muito sobre isso, provocada pelos recentes acontecimentos, como o Jogo Baleia Azul e a série 13 Porquês. Mas, entendemos que o jogo Baleia Azul ou a série do NETFLIX, não aumentaram os índices, na verdade, trouxeram à tona um assunto que para muitos é um tabu. Sempre se pensou em falar pouco sobre este mal para não estimulá-lo, mas este estímulo ocorre para quem já pensa nisso, portanto, o problema já está lá. Será que não falar sobre é melhor do que conversar sobre?

Só quem viveu um drama familiar ou de alguém próximo de seu vínculo afetivo sabe que é necessário combater este mal, que cada vez assola mais a sociedade. Agindo de forma silenciosa, às vezes escondido atrás de um falso sorriso, de uma simples apatia, de um desinteresse crescente pela vida... um vazio, uma dor incessante, como dizem os especialistas, ninguém quer tirar a própria vida e sim acabar com o sofrimento.

Familiares, amigos, professores, nem sempre conseguem perceber o que está acontecendo ou o desfecho final, por isso é tão importante não nos calarmos, tratarmos de acabar por vez com o preconceito de que doenças como a depressão não são "frescuras" e mais do que darmos apoio, buscarmos a ajuda profissional, pois nem o indivíduo, nem a família sozinhos conseguem superar este verdadeiro desafio, a luta pela vida, pela paz mental para se ter força de viver. Se viver é difícil, com todas as lutas diárias que travamos, em tempos como estes então, o esforço é muito superior.

Perda de valores, excesso de trabalho, medo constante do desemprego, da violência, exaltação do consumismo, do ter ao invés do ser. Necessidade de aceitação pelo grupo social, que impõe a ditadura da beleza, da magreza, da juventude, do estar sempre feliz... ao lado de tantos crimes, drogas, desemprego,miséria, corrupção, falsidades, exploração do homem pelo homem ao extremo, violência urbana, guerras, exploração sexual, trabalho escravo e infantil, alta competitividade... Tudo isso sempre existiu, mas com as novas tecnologias, com a onda do consumismo globalizado, com a perda dos valores morais, com a impunidade e a corrupção crescente, parece que o futuro chegou e ao invés de avançarmos e combatermos os males que afetavam a humanidade estamos pior do que antes.

A Câmara Municipal de Santos, em 2015, aprovou dois projetos de minha autoria, a lei 3.208 que cria um Plano Municipal de Combate ao Suicídio, que precisa ser regulamentado pela Secretaria Municipal de Saúde, mas que deve envolver outras áreas, como a Educação e a Assistência Social; e a lei 3.194 que institui a Semana Municipal de Combate ao Suicídio. O Plano Municipal precisa rapidamente ser construídos pelos órgãos competentes para que seja amplamente divulgado.

Pretendemos com estas medidas, levar informação à população, divulgar permanentemente os canais de apoio para que a ajuda profissional seja buscada com rapidez,e ao mesmo tempo, preparar familiares, professores e outros profissionais para estarem atentos aos sinais. Sabemos que tanto o álcool como a droga, muitas vezes são fugas desesperadas para essa dor que não passa nunca, e quanto mais cedo a descobrirmos nas pessoas próximas, mais chance elas terão de conseguir vencer este sim, um desafio extremamente compensador: uma vida plena, com seus altos e baixos, mas que vale a pena ser percorrida em toda a sua trajetória sem interrupções prematuras. A vida é o bem maior!

Deixo aqui meu apelo para que a Prefeitura coloque esta lei, uma das mais importantes para a atual sociedade, em prática.
 

Antonio Carlos Banha Joaquim
Vereador pelo PMDB em Santos