Guardas eram humilhados e vítimas de armas de pressão

Presidente da CEI marcou novos depoimentos para o dia 17

Compartilhe!

Curtir

Lixo! Vagabundo! Eram esses e outros termos pejorativos usados pelo coordenador do Canil da Guarda Municipal ao se reportar a seus subordinados, conforme relataram os dois integrantes da corporação à Comissão Especial de Inquérito (CEI) da Câmara de Santos que apura denúncias de assédio moral e sexual no Canil, terça-feira (08/11). Os guardas eram vítimas também das armas de pressão, chamadas airsoft, de propriedade do superior hierárquico.

Daniel Lopes dos Santos Cubells e José Roberto Laurindo dos Santos foram os primeiros guardas municipais vítimas do abuso de poder pelo coordenador do Canil que depuseram à CEI. Segundo os depoentes, o superior achava uma conduta normal agredir e humilhar os guardas. As acusações recaem também sobre uma guarda feminina, considerada seu braço-direito.

A comissão, presidida pelo vereador Reinaldo Martins (PT), deliberou ouvir os relatos, um de cada vez, para então interpelar os depoentes. As vítimas contaram as suas versões sobre os acontecimentos, assim como já o fizeram na corregedoria da Guarda Municipal e na Comissão de Sindicância constituída pela Prefeitura com o mesmo propósito.

As vítimas disseram que o acusado abusava da autoridade e sua cúmplice da ‘carta-branca’ concedida por ele, para mandarem e desmandarem no Canil, utilizando-se, inclusive, de armas de pressão, que dispara esferas de plástico e metal, a qualquer hora do dia, especialmente no horário do almoço ou em períodos de treinamento.

“Ele achava normal destratar os outros. Para ele, era brincadeira atirar nos guardas. Dizia que a gente é homem e que tem que aguentar. Uma vez, um desses tiros acertou e machucou a minha cabeça. E a guarda era tão arrogante quanto ele, se valendo das regalias”, relatou Daniel, ressaltando se tratar de armas particulares, já que a Guarda Municipal não dispõe desses equipamentos.

José Roberto, por sua vez, declarou que as ofensas e agressões faziam parte do cotidiano do Canil e que ninguém lá era chamada pelo nome. Falou também que essa arma não é comercializada livremente e contém uma demarcação que a identifica como brinquedo, o que, conforme ele, era adulterada pelo coordenador, para que se parecesse verdadeira.

“Há pessoas que ficaram com cicatrizes de ferimentos provenientes dessa arma. Ele, quando bem entendia, saía de sua sala com aquela arminha e dava tiro em todo mundo. Tínhamos que correr, não é? Para ele, pode ser brincadeira. Para mim, uma agressão. Tenho 53 anos, não sou moleque e não vou ficar tomando tiro de graça e ver ele rindo à toa”, afirmou José Roberto.

Questionado se conhecia o motivo que levou o coordenador a guardar as armas no Canil e não em sua residência, já que eram particulares, José Roberto foi taxativo: “Na casa dele, ele não iria usar. Lá, ele tinha espaço e vítima.” Segundo ele, as armas chegavam a ficar expostas na parede do canil e somente retiradas quando da visita de superiores da Guarda.

Os dois afirmaram não terem procurado outras instâncias da Guarda, para denunciarem os fatos, por se sentirem coagidos e por medo de represálias. A iniciativa, disseram eles, teve origem depois de um verdadeiro “basta” por parte dos insatisfeitos, que culminou no relato da situação à Secretaria Municipal de Segurança.

Em seguida, contaram os denunciantes, todos, inclusive o acusado, foram ouvidos pela corregedoria da Guarda e afastados de suas funções enquanto prosseguissem as investigações. O grupo já retornou aos postos de trabalho. No entanto, o acusado foi remanejado para outra coordenadoria.

“Aguentei um tempo essa situação. Tinha medo. Ele dizia: Eu sempre serei chefe. Eu mando todo mundo ir embora e sempre serei chefe. Para onde eu for, sempre serei chefe. Então, você fica com medo, ainda mais com a minha idade. Numa hora dessas, não dá para perder o emprego e ter de correr atrás da vida”, ressaltou José Roberto.

Assédio sexual – Os depoentes alegaram conhecer o caso de estupro envolvendo uma Guardiã-Cidadã e o mesmo acusado de assédio moral, denúncia que igualmente está sendo investigada pela CEI.

Daniel soube do fato, que teria ocorrido no final do ano passado, por outros guardas, pois não integrava a equipe do Canil à época. José Roberto, ao contrário, há mais de três anos no setor, ouviu o relato da própria vítima, depois que o grupo se manifestou junto à Secretaria de Segurança.

De acordo com José Roberto, desde que a guardiã foi trabalhar nesse setor, houve uma mudança no comportamento do coordenador que, além de prover regalias à sua cúmplice, passou a conceder privilégios também a ela, como, por exemplo, a não obrigatoriedade do uso correto do uniforme.

“Se percebia um tratamento diferente, mas só soube do ocorrido durante o afastamento. Depois de um tempo, notamos uma mudança no comportamento dela. Ficou mais fechada. Ele (coordenador) chegou a ofendê-la e ameaçou mandá-la embora”, relatou ele.

Ao final de cada depoimento, Reinaldo mostrou a cada um dos guardas a foto do coordenador do Canil, documento integrante do inquérito administrativo da Prefeitura, cuja cópia foi enviada à CEI, para que afirmassem tratar-se realmente do acusado das denúncias. Os dois confirmaram.

Reinaldo enalteceu a coragem e a integridade dos depoentes e agradeceu a colaboração dada à CEI. O vereador marcou uma nova oitiva de guardas denunciantes para o próximo dia 17 de novembro (quinta-feira), às 14h30, no mesmo auditório da Câmara Municipal.

Além de Reinaldo, participaram desta, que foi a segunda reunião da CEI, o vereadores Antonio Carlos Banha Joaquim e Manoel Constantino (PMDB), Sadao Nakai e Arlindo Barros (PSDB), Adilson Junior (PT), Braz Antunes (PPS), Valdir Nahora (PSB) e Odair Gonzalez (PR), todos membros da comissão, além de Cassandra Maroni (PT), Benedito Furtado (PSB) e Geonísio Aguiar (PMDB).


Gabinete do vereador professor Reinaldo Martins (PT)
Praça Tenente Mauro Batista de Miranda nº 1 - 2º andar - Sala 2 - Vila Nova - 11013-360 - Santos / SP
(13) 3219-3888 / (13) 3211-4100 ramais 4115 e 4182
www.professorreinaldo.com.br - reinaldomartins@professorreinaldo.com.br